Festas juninas

Não é que ele fosse muito fã de festas juninas, especialmente as que acontecem em julho, mas a verdade é que ele precisava de alguma distração para aquele sábado. Pelo menos é isso o que diria se alguém perguntasse de onde tirava ânimo para sair de casa em uma tarde tão fria como aquela. De fato, estava mais frio do que de costume e foi só depois de vestir muitas blusas e uma pesada jaqueta que ele teve coragem de botar o pé para fora de casa. Ainda hesitou quando o vento frio cortou-lhe o rosto, mas, já que havia chegado até ali, iria de qualquer jeito.

Uma distração para o sábado... Pois sim! O que ele não admitia é que pretendia apenas ver mais uma vez a garota de quem gostava e, quem sabe, até conversar com ela. Sem dúvida ela havia de estar lá. O problema é que não estaria sozinha, mas podia ser que alguma coisa facilitasse a aproximação. Se isso acontecesse, de que importaria um pouco de frio?

Chegou ainda no começo da festa e não viu grande movimentação. Só as crianças da quadrilha é que se preparavam para dançar. Um dia ele também havia sido uma dessas crianças. Ficou olhando para elas e tentando se lembrar. Pensou que, se bebesse, poderia comprar um quentão. Teve que se contentar com um saco de pipoca e passou o tempo se distraindo em joguinhos como o Tudo Premiado.

Já anoitecia quando ela apareceu. Como se imaginava, estava acompanhada. Não tinha coragem de ir falar com ela - os dois só se conheciam de vista e olhe lá. De repente, teve uma ideia: mas é claro, se estavam em uma festa junina, nada mais natural do que mandar a ela um Correio do Amor. Caminhou decidido até a barraquinha. Mas passou pela frente e viu que conhecia a mulher que trabalhava lá. Não contava com isso e vacilou. Mandava ou não mandava? Acabou achando muito arriscado e desistiu. Devia ser até meio brega mandar Correio do Amor hoje em dia. Além do mais, a garota nem era tão bonita assim. Estava um frio de rachar, e ele achou que não devia ter saído de casa.