Saudades.
Era inverno, fim de tarde frio, um céu lindamente alaranjado, um convite tentador pra a saudade.
A saudade invadia o quarto pela janela, avassaladora, sem pedir licença se instalava e se acomodava, deixando claro que ficaria por um bom tempo independente da sua presença ser ou não bem recebida.
Saudade que dói que rasga o coração, que perturba a mente, que faz a gente acordar de madrugada com o pensamento longe e os olhos marejados, saudade que a faz a gente ter vontade de tentar adivinhar o destino, mas não podemos, não tem jeito, é sempre um dia após o outro, dias que passam lentamente, com o tic tac do relógio indicando que cada minuto contém dentro de si segundos infinitos.
Atire a primeira pedra quem nunca sofreu de saudade, quem nunca releu cartas tentando encontrar algum conforto naquele pedaço de papel que com o tempo vai amarelando e envelhecendo, atire a primeira pedra quem nunca sentiu o gosto amargo na boca, gosto de algo que nunca mais vai voltar (dói, como dói).
Assumir a saudade é um ato de amor, deixar livre o que não nos pertence mais é um ato de sabedoria, de coragem, não se pode impor sua vontade perante a vida, deixar livre é mostrar ao destino que aceitou aquilo que lhe foi dado mesmo que no fundo você chore, reze pra todos os santos, sofra horas a fio de melancolia e claro, de saudade.
Assumir as consequências da saudade é um ato de maturidade, saber que ela estará lá, presente em cada esquina, em cada lembrança, em cada cheiro, é como se dentro de você só existisse o vazio e a saudade viesse pra te lembrar que você está só diante a tudo que te cerca e que você é pequeno diante toda essa dor.
Só se sente saudades daquilo que se amou, daquilo que se quer bem, e enquanto houver vida, haverá saudade, mesmo que a saudade de hoje não seja mais a saudade de amanhã, ela só findará quando chegar o nosso fim, e ai chegará a nossa vez de deixar saudades enquanto em algum lugar que não sabemos, respiramos aliviados pelo cessar de toda dor.