A cor da flor
 
No meu quintal tinha uma roseira. Fora plantada ali por causa da cor, do perfume acentuado de rosa que exalava e do rumo que tomara seu destino.
Era uma velha conhecida. A roseira e a cor da rosa nos lembrava uma vizinha idosa que morava numa casa de quintal hostil onde apenas uma roseira habitava: uma roseira perfumada e carregada de rosas vermelho maravilha.
Um dia, arrancaram a roseira sem o seu consentimento, pois ela partira para outra dimensão. Minha mãe sentiu pena da roseira e a transplantara para o nosso quintal. Entre tantos zelos destinados à roseira minha mãe desenvolvera o hábito de colocar terra "preta", resultado de queima de matéria orgânica e restos de pó de café. Um dia observei que a rosa mudara de cor. Era engraçado ver que a mesma roseira transmudara. Fiquei parada diante da roseira entre pensamentos e risos. Por que mudara a cor se era tão bela? Não resisti e tomei uma das rosas entre as mãos para sentir-lhe a fragrância e lá estava o mesmo perfume, um irresistível e acentuado perfume de rosa.
A rosa mudara de cor, mas sua essência estava lá cheirando rosa escandalosamente...
Pensei nas pessoas que conhecera ao longo de minha existência. Pude enumerar algumas delas que não tinham essência tão bela quanto a flor e não tiveram coragem de transmudar. Saí dali querendo mudar de cor.
Rutt Santos
Enviado por Rutt Santos em 14/07/2014
Reeditado em 19/09/2016
Código do texto: T4882191
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