Fúria
A noite não pode acabar para ela. O simples fato de saber que aquele pedaço de tempo passará e que as estrelas se apagarão com o brilho do sol por si só já a apavora.
Fúria é seu sobrenome. Contida por meses de pedacinhos incontáveis e não coláveis. Dança de braços erguidos em direção ao céu como se quisesse alcançar as estrelas ou receber delas o brilho da noite. Mas é ela que brilha mais que tudo
Reclama do pouco tempo que tem pra ser feliz ao passo que se esquece dele enquanto ocupa sua boca já rota entre tragos de cigarro e álcool.
Não existe amanhã para ela. Só pode ser Fúria hoje. Não pode sequer piscar.
O tempo é implacável. Amanhece.
No banco do carona de manhã às sete, o relógio digital da esquina marca Ela ainda mexe com os transeuntes, xinga sem palavrões, fala sozinha. Está morta, mas não se entrega. A Fúria esmaece. O dia começou.