UBATUBA
 

 
      Francisca, minha avó materna, nasceu na cidade de Ubatuba. Só vim a conhecer a cidade tardiamente, isto é, não cheguei a conhecer ninguém da família, além de minha avó, alguém que, talvez, ainda more lá.
       Ubatuba tornou-se importante para mim quando comecei a viajar para lá, na década de 1990. Alguém que venha lendo esses meus “depoimentos de viagens” talvez se pergunte: “Na década de 1990? Então você nunca viajou antes desse tempo?”. Viajei, sim, sempre acompanhada, sempre submissa à vontade e às determinações das pessoas e do grupo (evidentemente, ninguém tinha culpa disso). Claro que havia também prazer em viajar acompanhada, mas, não era um prazer simples, nunca o era. Apenas na década de 1990 vim a romper, o possível, da minha crosta de dependência e comecei a ousar gestos de autonomia, no caso, o de viajar sozinha. Quando descobri a ânsia de independência que me habitava sem que eu o soubesse, foi como ter aportado em um novo continente de mim mesma. Claro que no comum dos dias, nada era assim: as solicitações das pessoas do meu mundo e o meu curvar-me, o tempo todo, a elas, às suas solicitações continuou, mesmo foi se acentuando progressivamente, o meu hoje que o diga, ai!
       Bem, voltando a um cerne qualquer para este texto: Na década de 1990, uma ou duas vezes por ano, eu fugia comigo para algum lugar e Ubatuba era um desses destinos. Tinha por hábito ir para a praia da Enseada e ficar sempre no mesmo hotel. Uma vez instalada, fazia o tour pelas praias todas da região. Tomava o ônibus que circulava pela Rio-Santos e já “viajar” de ônibus comum pela Rio-Santos  constituía um enorme deslumbramento.
        Parava na praia do Saco da Ribeira para ver os navios – não era praia para se ficar. Em direção à cidade de Ubatuba, parava cada dia em uma praia diferente: Praia Dura, Lázaro, etc. com a sensação de ter a plena posse da minha vida.
     A foto acima é da praia da cidade de Ubatuba. Não procurei conhecer parentes que porventura ali habitassem. Não se escandalizem, por favor: não tenho nada contra a instituição família, muito pelo contrário. Apenas acho que também de família é preciso, de vez em quando, se tirar alguns dias de férias. Perdoem-me se digo, aqui, algo demasiadamente ousado. Perdoem-me.