O Tempo Passa, Mas Também Lava. 
Por Carlos Sena 



O tempo passa: em cada fruto que amadurece. Em cada ruga que em nosso rosto, sorrateiramente brota. Em cada menina-moça que se transforma em mulher. Em cada garoto que, súbito, engrossa a voz, descobre o primeiro fio de barba e os primeiros sinais de sêmen  invadindo sua intimidade. O tempo passa em cada amigo que se vai, em cada ente que a morte leva, em cada cheirinho de terra molhada que nos remete aos nossos ontens. Passa, sobremaneira, quando a gente se descobre diferente do que um dia fomos e, mesmo assim, continuamos os mesmos em constantes transformações. Passa em cada passo de dança, em cada percalço que vencemos. Em cada perda significativa que temos o tempo também passa. Mas, o mesmo tempo que passa é o que lava: nossa alma tão cheia de pecados; nossas ensaboadas saudades de quem nos deixou sem que saibamos seu endereço; lava nossos lençóis imaginários donde o amor fresco um dia deixou marcas; lava o rosto dos que choram, dissimuladamente, por coisas que não acreditam. Ah, mas quem dera que o tempo lavasse as consciências dos nossos políticos para que um dia tenhamos uma pátria mais confiável. Lavasse, sobremaneira, a alma mesquinha dos que vivem a vida humilhando os mais fracos e destilando preconceitos a granel. E, se de todo não fosse pedir muito, pediria ao tempo que lavasse a consciência dos que fazem dos Facebook uma tribuna da vida alheia, não obstante o divã psicalitico que muitos utilizam expondo suas particularidades nem sempre interessantes de serem publicadas. Assim, pela certeza de que o mesmo tempo que passa também é o que lava, permito-me às suas passagens, enquanto minha alma não se faz lavada no turbilhão de pecados que me fazem felizes.