Sobre “Mulher esperando homem.”
Se Teresa ouvisse a voz da sensatez, entenderia porque tantas pessoas diziam que carência afetiva aliada a falta de amor próprio, são péssimos critérios de escolha e mais ainda, péssimos conselheiros. E para mulheres de idade mais avançada, como ela, seria mesmo fatal, pois está comprovado que nesses casos, mesmo a mais graduada se comporta como a mais simplória. Se aparece “um qualquer” que lhe faça meio elogio uma mulher em estado agudo de carência age tal qual o mais néscio dos seres humanos. E por que seria diferente com ela, que se achava moderna e experiente, divorciada, mas já estava com quase sessenta e nenhuma perspectiva de companhia em vista?
Não foi. Procura daqui, procura de lá, reencontrou um ex-namorado numa rede social que balançou suas estruturas, mexeu com seu ego e, mais ainda, com suas fantasias de mulher carente e sozinha.
E foi mesmo uma grata surpresa! Não é que depois de quase 40 anos sem contato algum, ele não só lembrava-se dela como continuava um homem interessante, além de gentil e galanteador, como ela bem lembrava? Tinham vivido um romance de verão, na juventude, e foi muito lisonjeiro ouvir elogios a seu sorriso e a outros aspectos de sua personalidade, que ele pareceu lembrar tão bem.
Bom, segundo consta, o “rolo” reiniciou quando passada a surpresa do reencontro, entabularam conversa no bate-papo da rede e seguiram trocando e-mails. Mensagens dali, e-mails de cá e o “rolo rolou”, estreitando mais ainda o relacionamento. Trocaram telefones e a conversa evoluiu para a troca de confidências, poemas, mensagens no celular, conversas a meia voz... Tudo isso furtivamente, pois ele casado e aparentemente bem, desfilava publicamente, com esposa, filhos e netos. Enfim, um respeitável pai de família.
Embora não gostasse de admitir, Teresa invejou e desejou aquela vida para si. Sem pudores, alimentou o projeto de ter de novo aquele homem. Seu namorado do passado seria seu outra vez e mesmo morando em cidades distantes, acreditava que dariam um jeito de se encontrar, reviver aquela paixão que ele tão bem soube reacender, com mensagens românticas e telefonemas melosos.
Mas, o que só Teresa não sabia, é que o jeito galante e sedutor do seu amado reencontrado não era exclusivo dela nem para ela. Várias outras recebiam a atenção de “amigo gentil”, com um atendimento especial as carentes de plantão de sua rede social, todas ansiosas por um elogio, um aceno, e se fossem de um homem interessante, nossa!
Enquanto Teresa se derretia de amores e fazia planos de reencontro, enquanto enviava poemas eróticos, mensagens que não deixavam dúvidas qual era sua intenção, ele, ego inflado, também se divertia com outras, em mensagens insinuantes, poemas elogiosos, telefonemas na madrugada... Vaidoso e egoísta colhia os elogios das que mendigavam sua atenção e retribuía sem pudores ou maiores cuidados.
E cada vez mais Teresa descia ao fundo do poço da carência. Adoeceu. Seguia as postagens do amado na rede, como um cão lambendo as mãos do dono. Mal sabia ela que ele, ególatra e dissimulado, planejava mesmo ir a seu encontro e se divertir um pouco, desenfastiar da vida de casado, tudo tão certinho e nos conformes. Embora soubesse que já não tinha mais a disposição nem a saúde da juventude, uma trepada com alguém do seu passado lhe daria um novo ânimo, quem sabe. Óbvio, claro que nada mudaria em sua vida, pois esperto como ele só, saberia conduzir muito bem aquela situação. No fundo contava que a mulher e os filhos SE soubessem do seu “deslize” levariam em consideração sua idade, sua precária situação de saúde e o desculpariam.
O final dessa história? Quem sabe? Porque, até quando também não se sabe, Teresa mantém-se esperançosa para reviver seu passado e continua enviando mensagens apaixonadas, se insinuando, cercando, achando que mais dia menos dia estará nos braços do amado. Busca sinais, evidências de que ele também deseja isso. Colhe aqui e ali migalhas de sua atenção e, como lhe falta amor próprio, contenta-se com isso. Ele, com a cara de pau dos egoístas, finge que não, mas alimenta suas investidas, mantém a coitada em banho-maria. Vai que surge uma oportunidade?
Como disse no início, carência e falta de amor próprio, são péssimos critérios de escolha e péssimos conselheiros. Ele que se cuide, pois, como sabiamente escreveu Rubem Braga, “A mulher que está esperando o homem recebe sempre a visita do Diabo, e conversa com ele. Pode não concordar com o que ele diz, mas conversa com ele.”
P.S. "A mulher esperando o homem" é uma excelente crônica de Rubem Braga. A temática é outra mas aproveitei muito da ideia do título.
Se Teresa ouvisse a voz da sensatez, entenderia porque tantas pessoas diziam que carência afetiva aliada a falta de amor próprio, são péssimos critérios de escolha e mais ainda, péssimos conselheiros. E para mulheres de idade mais avançada, como ela, seria mesmo fatal, pois está comprovado que nesses casos, mesmo a mais graduada se comporta como a mais simplória. Se aparece “um qualquer” que lhe faça meio elogio uma mulher em estado agudo de carência age tal qual o mais néscio dos seres humanos. E por que seria diferente com ela, que se achava moderna e experiente, divorciada, mas já estava com quase sessenta e nenhuma perspectiva de companhia em vista?
Não foi. Procura daqui, procura de lá, reencontrou um ex-namorado numa rede social que balançou suas estruturas, mexeu com seu ego e, mais ainda, com suas fantasias de mulher carente e sozinha.
E foi mesmo uma grata surpresa! Não é que depois de quase 40 anos sem contato algum, ele não só lembrava-se dela como continuava um homem interessante, além de gentil e galanteador, como ela bem lembrava? Tinham vivido um romance de verão, na juventude, e foi muito lisonjeiro ouvir elogios a seu sorriso e a outros aspectos de sua personalidade, que ele pareceu lembrar tão bem.
Bom, segundo consta, o “rolo” reiniciou quando passada a surpresa do reencontro, entabularam conversa no bate-papo da rede e seguiram trocando e-mails. Mensagens dali, e-mails de cá e o “rolo rolou”, estreitando mais ainda o relacionamento. Trocaram telefones e a conversa evoluiu para a troca de confidências, poemas, mensagens no celular, conversas a meia voz... Tudo isso furtivamente, pois ele casado e aparentemente bem, desfilava publicamente, com esposa, filhos e netos. Enfim, um respeitável pai de família.
Embora não gostasse de admitir, Teresa invejou e desejou aquela vida para si. Sem pudores, alimentou o projeto de ter de novo aquele homem. Seu namorado do passado seria seu outra vez e mesmo morando em cidades distantes, acreditava que dariam um jeito de se encontrar, reviver aquela paixão que ele tão bem soube reacender, com mensagens românticas e telefonemas melosos.
Mas, o que só Teresa não sabia, é que o jeito galante e sedutor do seu amado reencontrado não era exclusivo dela nem para ela. Várias outras recebiam a atenção de “amigo gentil”, com um atendimento especial as carentes de plantão de sua rede social, todas ansiosas por um elogio, um aceno, e se fossem de um homem interessante, nossa!
Enquanto Teresa se derretia de amores e fazia planos de reencontro, enquanto enviava poemas eróticos, mensagens que não deixavam dúvidas qual era sua intenção, ele, ego inflado, também se divertia com outras, em mensagens insinuantes, poemas elogiosos, telefonemas na madrugada... Vaidoso e egoísta colhia os elogios das que mendigavam sua atenção e retribuía sem pudores ou maiores cuidados.
E cada vez mais Teresa descia ao fundo do poço da carência. Adoeceu. Seguia as postagens do amado na rede, como um cão lambendo as mãos do dono. Mal sabia ela que ele, ególatra e dissimulado, planejava mesmo ir a seu encontro e se divertir um pouco, desenfastiar da vida de casado, tudo tão certinho e nos conformes. Embora soubesse que já não tinha mais a disposição nem a saúde da juventude, uma trepada com alguém do seu passado lhe daria um novo ânimo, quem sabe. Óbvio, claro que nada mudaria em sua vida, pois esperto como ele só, saberia conduzir muito bem aquela situação. No fundo contava que a mulher e os filhos SE soubessem do seu “deslize” levariam em consideração sua idade, sua precária situação de saúde e o desculpariam.
O final dessa história? Quem sabe? Porque, até quando também não se sabe, Teresa mantém-se esperançosa para reviver seu passado e continua enviando mensagens apaixonadas, se insinuando, cercando, achando que mais dia menos dia estará nos braços do amado. Busca sinais, evidências de que ele também deseja isso. Colhe aqui e ali migalhas de sua atenção e, como lhe falta amor próprio, contenta-se com isso. Ele, com a cara de pau dos egoístas, finge que não, mas alimenta suas investidas, mantém a coitada em banho-maria. Vai que surge uma oportunidade?
Como disse no início, carência e falta de amor próprio, são péssimos critérios de escolha e péssimos conselheiros. Ele que se cuide, pois, como sabiamente escreveu Rubem Braga, “A mulher que está esperando o homem recebe sempre a visita do Diabo, e conversa com ele. Pode não concordar com o que ele diz, mas conversa com ele.”
P.S. "A mulher esperando o homem" é uma excelente crônica de Rubem Braga. A temática é outra mas aproveitei muito da ideia do título.