BRASIL X HOLANDA, COPA 2014: ME ENGANA QUE EU GOSTO

Bem, como todo brasileiro, eu não dei atenção para a disputa do Terceiro Lugar da Copa 2014. Eu que não vi jogo algum pela tevê, os poucos que acompanhei foram pela Rádio Itatiaia, tendo visto alguns gols e lances pelo Youtube em canais estrangeiros, não teria porque me dignar a gastar um precioso tempo que eu poderia aproveitar me aprofundando em leituras que separei para ler quando oportuno. Oportunidade melhor não havia, diga-se de passagem. Sendo assim, sem ter visto ou escutado o jogo não tenho a menor condição de tecer minhas deduções baseando-me apenas no resultado: 3 a 0 para a Holanda. Resultado que a considerar a projeção da Seleção Brasileira na competição futebolística só foi injusto porque quem deveria estar disputando a terceira colocação contra os holandeses era outra seleção, bem longe de ser a brasileira.

Mas eu quero deixar um relato, aproveitando o ensejo. Eu me opus à realização da Copa do Mundo 2014 no Brasil desde a escolha do país para sede. Me lembro que na época o Yahoo! Respostas era badalado e eu fui lá deixar minha opinião para a postagem de alguém que ficou feliz da vida e quis saber quais os Estados brasileiros que deveriam receber os jogos. E a minha indignação na época não era com relação a investimentos prioritários que a nação deveria dar atenção em vez de se esforçar para proporcionar mais à FIFA, que lucra alto com o evento, do que ao povo a satisfação de ceder o terreno para a realização da festa midiática. Minha indignação era com o fato de que o futebol brasileiro estava corrupto demais, show business demais, lobista demais para se meter a usar o território nacional apenas para dar lucro para organizadores e patrocinadores do evento, comissão técnica, técnico, jogadores apadrinhados, seus agentes e os grupos de mídia. Financeiramente o povo não seria ajudado, como não foi, sequer os empregos e oportunidades que disseram que haveria em larga escala aconteceram. E com relação ao futebol nada mudaria.

Não haveria respeito ao torcedor, ou seja: o torcedor de um time nordestino, por exemplo, continuaria sem ter o gostinho de ver jogador do time que torce indo direto do clube para a Seleção jogar uma Copa, sem ter que ir parar em uma equipe do Rio, de São Paulo ou do exterior. A eterna vida de contribuinte conformado com pouca coisa que o torcedor do exemplo é humilhantemente levado a levar não se alteraria. Mesmo jogando no Sudeste ou no Sul ou no estrangeiro, aquele jogador que está em muito melhor forma, destacando-se nas estatísticas, mas que não tem um bom agente que participa da roda de negócios das convocações continuaria a ficar de fora. A mídia continuaria produzindo ídolos de mentira, que não jogam nada mas que dão bons ibopes se bem trabalhados, e com eles continuaria enojando um bocado nos noticiários informando desde as vésperas do evento, que parece mais a pertencer à indústria do entretenimento, toda futilidade possível a respeito do ou dos produtos que preparasse para a ocasião. Casos que já fizeram parte Zico, Bebeto, Ronaldo Fenômeno depois de 1994, Adriano Imperador, Luís Fabiano. E que este ano teve Neymar como dono da posição de elite do antifutebol. Desrespeito total ao torcedor ou ao apreciador do bom futebol.

Ao que me parece, o Brasil ficaria com esta Copa ainda sem ter elenco compatível com a posição de vencedor, mas os acontecimentos imprevistos tornaram necessária a alteração de planos. Nada me tira a ideia de que a FIFA, que é uma empresa que organiza entretenimento no meio futebolístico, cuida de servir de background para aspirações políticas desde de 1990 para cá. Viram um trampolim na Copa. Além de lucrar e fazer lucrar com o seu negócio, é claro. Uma máfia que atua não só maculando a integridade da Copa do Mundo, mas também de outros torneios em todo o mundo. O mais visível para mim é o Campeonato Brasileiro, com seus campeões fabricados em bastidores, de 1987 para cá. Campeões e partidas biônicos são oferecidos ao público, que investe pesado pagando ingressos, comprando produtos e perdendo o tempo de viver dando atenção ao que ele pensa se tratar de uma disputa. E ao que ele pensa se tratar de craques que nascem espontaneamente no meio dessa disputa.

O recado que eu gostaria de dar àqueles que lerem este texto é que todos nós devemos deixar de ver o futebol com os adjetivos que a imprensa ou a mídia toda gostam de usar para definir o interesse do brasileiro por este esporte. Enquanto fizermos o que eles mandam em suas frases e crônicas jornalísticas ou publicitárias, que visam a atender seus clientes, amansando-nos, estaremos a sofrer nas mãos deles. Não eu, eu já me libertei faz anos. Quando lido com futebol eu só comemoro. Observo se o que prepararam para a temporada para o time que torço é algo bom, se não é: vou viver. Quem gosta de sofrimento? Viajar, se divertir, ler ou até acompanhar outro esporte é muito mais prazeroso. Ainda mais sofrer por causa de coisa inútil que não enche o bolso e nem a barriga de quem é só torcedor. Não aumenta o conhecimento significativo de ninguém. Quando você vai precisar saber, de maneira fundamental para a sua vida, coisas como "Quem foi o campeão brasileiro de ..."? Todos nós conseguimos viver sem saber qualquer informação sobre o futebol, não é mesmo? Ao passo que se você decide ler um bom livro e com ele aprende truques que o faz enriquecer, como é com o livro "Contos de Verão: A casa da fantasia", que eu li e me foi útil, você só tem a ganhar. Sei que é preciso estar atento a detalhes e desenvolver bastante a capacidade analítica para saber o que têm para o time da gente na temporada, mas só de pensar nisso já se torna capaz de desenvolver a habilidade de enxergar mais refinadamente o que está atrás das cortinas.

E depois de nos desprendermos dos cordões que os manipuladores puxam vem a segunda parte: exigir como tem que ser o que querem que compremos. Sim, futebol é comércio, precisam de clientes e estes somos nós torcedores e afins. Se com qualquer produto o consumidor exige qualidade, informações verdadeiras e preço justo, por que não com este? Agindo assim, não precisaremos deixar de torcer para o time da nossa cidade para torcer para o Flamengo do Rio de Janeiro porque tem mais projeção; não precisaremos nos felicitar apenas com o fato de a Seleção vir com o escrete do lobby jogar em nossa cidade; não precisaremos passar por privações ou por resignação porque somos tratados como escória pela mídia e pelo Sistema naquilo que nos incutem na mente e nos fazem pensar que é crucial para a nossa existência e felicidade.

Viva o Brasil! O pesadelo acabou. Dias melhores virão, pois os acontecimentos desta Copa: toda bandalheira, toda perda e dívidas que acarretamos sem pedir, serão compensados com a única coisa boa que herdamos nesses 30 dias: a máscara dos indecentes que caiu. Agora cabe a nós não permitir que eles as coloquem novamente, além de começar a cobrar, desde já, decência e utilidade.