Comparando diferentes Momentos
Escrevo este texto, passados três dias da derrota impressionante do Brasil para a Alemanha. Tenho ouvido, visto e lido muitos jornalistas que querem comparar esta derrota de 7 x 1 com a derrota do Brasil em 1950, para a Seleção uruguaia. Nada mais falsa essa comparação.
Eu tinha 15 anos em 1950 e sabia que o Brasil era o favorito disparado, pelo grande contingente de jogadores de alta qualidade de que dispúnhamos. Ainda para confirmar esse favoritismo, em 1949 aqui no Brasil, foi realizado o Campeonato sul-americano no qual vencemos o Equador por 9 x 0, a Bolívia por 10 x 1, o Chile por 2 x 1, a Colômbia por 5 x 0, o Peru por 7 x 1 , o Uruguai (com uma equipe de novos) por 5 x 1. Então chegamos à partida contra o Paraguai, quando poderíamos até perder. Por excesso de confiança e falta de seriedade perdemos e houve necessidade de jogo desempate quando vencemos por 7 x 0.
Essa lição de nada serviu para os dirigentes da CBD (a CBF só apareceria em 1980, quando Giulite Coutinho conseguiu separa o futebol das demais modalidades desportivas) na preparação para a Copa de 1950, que seguia com o técnico, o Senhor Flávio Costa, quando novamente faltou-nos humildade.
Estreamos ganhando do México por 4 x 0, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, onde seria o nosso segundo jogo, contra a Suíça, o Senhor Flávio Costa, para agradar a crônica esportiva paulista escalou 5 jogadores que atuavam em São Paulo. Não que lhes faltasse categoria, mas o time foi totalmente mexido. O jogo foi muito ruim e sofremos o empate por 2 x 2 e ficamos em situação complicada em nosso grupo (pois a Iugoslávia havia vencido o México e a Suíça e jogaria pelo empate contra o Brasil, no Maracanã. Lembremo-nos que na época a vitória contava dois pontos).
Num jogo difícil, pois a Iugoslávia era uma excelente equipe, no meu entender a melhor da Europa naquela Copa, o Brasil venceu por 2 x 0. Zizinho, tempos depois, diria que foi a partida mais difícil que ele havia jogado.
Continuamos na Copa e chegamos ao quadrangular final; Brasil, Uruguai, Suécia, e Espanha vencedores de seus grupos. Começamos arrasando a Suécia por 7 x 1 e a Espanha por 6 x 1. O Uruguai, por pouco, não chegava à terceira rodada do quadrangular sem chances. Com um empate e uma vitória, logo com 3 pontos, poderia ser campeão se vencesse o Brasil.
Mas o Uruguai havia feito uma campanha, algo sofrível. De fato venceu a Bolívia por 8 x 0 na fase de grupos (outra trapalhada dos organizadores da Copa foi ter mantido um grupo com 2 países, só). Depois enfrentou a Espanha (empate 2 x 2 em São Paulo, quando Obdulio Varella empatou aos 28 do 2º tempo) e a Suécia (uma vitória uruguaia por 3 x 2, de virada com gols de Miguez aos 28 e 40 do 2º tempo, no Pacaembu). Comparando a campanha da seleção do Uruguai com a de nossa seleção, era evidente o nosso favoritismo. O Brasil havia “destruído” a Espanha e a Suécia e o Uruguai contra esses mesmos adversários havia enfrentado muitas dificuldades. Mas a Seleção do Uruguai tinha de ser respeitada.
Começamos a perder a Copa nas vésperas. A comissão técnica, em vez de tirar a Seleção do Distrito Federal (a cidade do Rio de Janeiro) e levá-la para uma cidade mais tranquila no Estado do Rio de Janeiro, para isolá-la do clima de “já ganhou” que havia tomado conta de todo o Rio de Janeiro, Distrito Federal, deixou todos os jogadores a mercê de jornalistas, políticos e demais pessoas que queriam, à todo momento, tirar uma foto com os futuros “campeões do Mundo”.
Segundo relato de jogadores daquela Seleção a um jornal do Uruguai, diziam que não tiveram um minuto de sossego na véspera do jogo decisivo. Tendo a seleção toda participado de um jantar fora do horário normal de preparação, com muitos políticos querendo aproveitar o momento para suas campanhas eleitorais.
Então veio o jogo no Maracanã no dia 16 de julho de 1950. Estádio lotado. Faltou o espírito de um vencedor. Poderíamos até empatar com o Uruguai. Marcamos um gol no segundo tempo, aos 2 minutos, através de Friaça. Teríamos 43 minutos para sermos os campeões.
Então paramos de jogar para deixar o tempo passar. Só não avisamos os uruguaios que chegaram ao empate aos 21 do 2º tempo com Schiaffino e ao gol da vitória aos 34 através de Alcides Ghiggia. E assim o Brasil inteiro chorou e crucificamos o arqueiro Barbosa pela derrota.
Então, comparando a derrota na Copa de 2014 com a derrota na Copa de 1950 temos de ser honestos e humildes e reconhecer que com esta seleção atual não poderíamos almejar ir além do que um 3º ou 4º lugar, pois a nossa campanha na primeira fase da Copa deixou muito a desejar.
Para concluir, se em 1950 tínhamos uma enorme safra de jogadores, tanto jovens quanto alguns calejados de grandes disputas, nesta de 2014 tínhamos depositadas todas as nossas “fichas” em Neymar.
Mesmo não sendo a seleção que nós brasileiros esperávamos acredito que o coração de cada brasileiro estava empurrando nossos jogadores para a vitória.
Porém foi uma jornada esportiva e devemos continuar amando este que é o nosso país, um dos maiores do mundo, que se chama Brasil.