Uma triste efeméride: 1º de abril de 1964
Epígrafe:
“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem.”
Assim o jornal O Globo, saudou em editorial no dia 1º de abril de 1964 o golpe militar que suprimiu as liberdades democráticas e por 21 anos manteve os brasileiros sob os coturnos da ditadura.
Peço-lhes que me perdoem por dispensar hoje nosso soneto mensal para, nesta breve reflexão, reverenciar a memória de Silvério Costa Lettra.
Nascido em Espinheiro, pequena freguesia da Vila de Alcanena, na região do Médio Tejo, Portugal, em 1900, empenhou boa parte de sua vida na luta contra a ditadura salazarista.
No Brasil, Silvério foi uma dentre as milhares de vítimas do golpe militar que há cinquenta anos implantou entre nós a tortura como política de estado. A tortura é o grau maior de corrupção a que pode ser submetida a natureza humana. Seja tortura física ou moral é difícil pensar em crime pior e mais atroz.
Silvério costumava dizer que a vida nos reserva alegrias e tristezas e que se para o pessimista o copo está metade vazio, para o otimista está metade cheio. Nossos momentos – doces ou amargos – são provenientes de nossas escolhas; assim, se o destino nos dá limões, devemos transformá-los em limonada.
Em qualquer caso a esperança tem que ser mais forte do que o medo. Se você acredita nas escolhas que faz, tem que manter o compromisso com elas, não pode se deixar abater pelo receio ou pela covardia.
Foi uma lição importante que me legou (além de sua biblioteca, onde se destacavam as obras completas de Eça de Queirós e Guerra Junqueiro). Já íamos pelos fins de abril, começos de maio daquele ano de 1964, quando soubemos de sua morte. Silvério se matara por afogamento em Santos, litoral de São Paulo. Explicou em carta que tinha certeza de que se fosse torturado acabaria por entregar os companheiros e, por isso, punha termo à própria vida.
Hoje, quando se vive no Brasil a plenitude das liberdades políticas e do estado democrático de direito, parece-nos absurdamente distante falar em censura ou em tortura. Mas é preciso não esquecer que faz menos de trinta anos que recuperamos o direito de votar livremente para presidente. E que falta muito ainda para que haja real democracia econômica e para que a justiça seja efetivamente um direito de todos e não um privilégio do poder econômico.
Para que jamais esqueçamos que houve tortura falei do Silvério; para que jamais esqueçamos que houve censura deixo neste resto de espaço uma receita dobrada de Musse de Limão.
Ingredientes: 2 latas de leite condensado; 2 latas de creme de leite; sumo de 2 limões rosa e 2 limões galegos grandes.
Modo de fazer: abra as latas de leite condensado e de creme de leite e reserve. Lave bem os limões e enxugue-os. Raspe a casca dos limões galegos e reserve para decorar o prato no final. Corte os limões ao meio. Apanhe um dos limões, esprema três gotas em cada uma das latas de creme de leite e mexa vigorosamente com uma colher (isso fará o soro virar creme de leite também). Esprema o sumo de todos os limões num copo e reserve. Despeje no liquidificador o creme de leite e o leite condensado e bata por aproximadamente 2 minutos. Vai se formar um redemoinho no meio do creme que está sendo batido e nele você deve despejar - bem devagar - o sumo de limão, sem parar de bater. O segredo é parar de despejar o sumo cada vez que o redemoinho ‘engasgar’ e só voltar a despejá-lo quando o redemoinho se formar de novo (isso é importante para que se obtenha consistência de musse sem ter que usar gelatina). Depois de terminar de despejar todo o sumo deixar bater por mais 2 minutos. Colocar em uma forma de vidro, enfeitar com as raspas de casca por cima e deixar na geladeira. Caso você queira, pode fazer meia receita.
Nos tempos da ditadura era com receitas culinárias que a imprensa escrita costumava encher os espaços em branco criados pelas matérias censuradas. Hoje, aqui e agora, a gente só fez isso para seguir a sugestão do Silvério e aproveitar os limões. Felizmente.
(Este texto foi originalmente publicado no jornal virtual www.algoadizer.com.br na edição 79 de abril de 2014)
Epígrafe:
“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de essencial: a democracia, a lei e a ordem.”
Assim o jornal O Globo, saudou em editorial no dia 1º de abril de 1964 o golpe militar que suprimiu as liberdades democráticas e por 21 anos manteve os brasileiros sob os coturnos da ditadura.
Peço-lhes que me perdoem por dispensar hoje nosso soneto mensal para, nesta breve reflexão, reverenciar a memória de Silvério Costa Lettra.
Nascido em Espinheiro, pequena freguesia da Vila de Alcanena, na região do Médio Tejo, Portugal, em 1900, empenhou boa parte de sua vida na luta contra a ditadura salazarista.
No Brasil, Silvério foi uma dentre as milhares de vítimas do golpe militar que há cinquenta anos implantou entre nós a tortura como política de estado. A tortura é o grau maior de corrupção a que pode ser submetida a natureza humana. Seja tortura física ou moral é difícil pensar em crime pior e mais atroz.
Silvério costumava dizer que a vida nos reserva alegrias e tristezas e que se para o pessimista o copo está metade vazio, para o otimista está metade cheio. Nossos momentos – doces ou amargos – são provenientes de nossas escolhas; assim, se o destino nos dá limões, devemos transformá-los em limonada.
Em qualquer caso a esperança tem que ser mais forte do que o medo. Se você acredita nas escolhas que faz, tem que manter o compromisso com elas, não pode se deixar abater pelo receio ou pela covardia.
Foi uma lição importante que me legou (além de sua biblioteca, onde se destacavam as obras completas de Eça de Queirós e Guerra Junqueiro). Já íamos pelos fins de abril, começos de maio daquele ano de 1964, quando soubemos de sua morte. Silvério se matara por afogamento em Santos, litoral de São Paulo. Explicou em carta que tinha certeza de que se fosse torturado acabaria por entregar os companheiros e, por isso, punha termo à própria vida.
Hoje, quando se vive no Brasil a plenitude das liberdades políticas e do estado democrático de direito, parece-nos absurdamente distante falar em censura ou em tortura. Mas é preciso não esquecer que faz menos de trinta anos que recuperamos o direito de votar livremente para presidente. E que falta muito ainda para que haja real democracia econômica e para que a justiça seja efetivamente um direito de todos e não um privilégio do poder econômico.
Para que jamais esqueçamos que houve tortura falei do Silvério; para que jamais esqueçamos que houve censura deixo neste resto de espaço uma receita dobrada de Musse de Limão.
Ingredientes: 2 latas de leite condensado; 2 latas de creme de leite; sumo de 2 limões rosa e 2 limões galegos grandes.
Modo de fazer: abra as latas de leite condensado e de creme de leite e reserve. Lave bem os limões e enxugue-os. Raspe a casca dos limões galegos e reserve para decorar o prato no final. Corte os limões ao meio. Apanhe um dos limões, esprema três gotas em cada uma das latas de creme de leite e mexa vigorosamente com uma colher (isso fará o soro virar creme de leite também). Esprema o sumo de todos os limões num copo e reserve. Despeje no liquidificador o creme de leite e o leite condensado e bata por aproximadamente 2 minutos. Vai se formar um redemoinho no meio do creme que está sendo batido e nele você deve despejar - bem devagar - o sumo de limão, sem parar de bater. O segredo é parar de despejar o sumo cada vez que o redemoinho ‘engasgar’ e só voltar a despejá-lo quando o redemoinho se formar de novo (isso é importante para que se obtenha consistência de musse sem ter que usar gelatina). Depois de terminar de despejar todo o sumo deixar bater por mais 2 minutos. Colocar em uma forma de vidro, enfeitar com as raspas de casca por cima e deixar na geladeira. Caso você queira, pode fazer meia receita.
Nos tempos da ditadura era com receitas culinárias que a imprensa escrita costumava encher os espaços em branco criados pelas matérias censuradas. Hoje, aqui e agora, a gente só fez isso para seguir a sugestão do Silvério e aproveitar os limões. Felizmente.
(Este texto foi originalmente publicado no jornal virtual www.algoadizer.com.br na edição 79 de abril de 2014)