Brasil, joga o TERCEIRO LUGAR PRA MIM.

Estou com a não classificação do Brasil ainda entalada na garganta, como um nó que não desata e nem consegue chamar aquilo de derrota. Por favor, me atirem quantas pedras quiserem, mas a palavra é muito pesada diante do cenário político vergonhoso em que vive o nosso país. Derrota é o que acontece nas urnas, quando a população se deixa ser comprada e quem perde, de fato, somos todos nós.

As pessoas se alienaram antes e durante a Copa. Algumas diziam que não teria Copa, que o Brasil não teria condições de recebê-la. Outros diziam que o Brasil tinha comprado o campeonato, que seríamos campeões e final de conversa. Hoje, diante desse desfecho, há quem chame de vexame, de vergonha, de derrota, de humilhação, eu chamo apenas de ESPORTE.

Eu, você e boa parte do Brasil (e até mesmo meu pai que dizia estar torcendo desde o inicio pela Argentina) desejaria essa vitória em casa, a festa seria linda, reúne os amigos, acelera o coração e nutri o sentimento de ser e de ter o título de melhor do mundo, os donos da bola e da COPA. Seria um afago no ego brasileiro, um polir de frases como “eu tenho seis títulos”; “eu tenho o melhor jogador”; “eu ganhei a Copa em Casa”. Orgulhosos, não acharíamos qualquer defeito, afinal, vencer (mesmo não sendo) me parece que é um conjunto de elementos que são gerados por perfeição ou sorte. E mesmo que a sorte estivesse do nosso lado, todo mundo diria que teria sido perfeição.

Passei, logo após o final do jogo, a acompanhar as redes sociais de alguns jogadores, muitos deles mantiveram-se calados, não esboçaram sentimento algum, outros manifestaram pedidos de desculpas, mas o que mais me chocava era o desfecho dos seguidores que sem educação, desrespeitosamente, agrediam os jogadores com palavras pesadas, de baixo calão, ofensas tão desumanas, como se eles não fossem seres humanos falhos, passiveis de erros e de ruins momentos. Quem dera esses adolescentes - pois eram a maioria - tivessem o mesmo ímpeto de revolta e de ação para construir um mundo melhor, e não para atacar quem precisava de força, de união, pois cresci ouvindo que são nos piores momentos que precisamos estar mais unidos. Afinal, não são nesses momentos que a gente tem de se fortalecer? Ou o patriotismo é apenas pseudo, devendo só existir nas glórias?!

A imagem e a frase do Davi Luiz, jogador de futebol, cidadão comum, ficou ecoando na minha cabeça: “eu queria dar ao meu povo tão sofrido, pelo menos a alegria do futebol”. Já pensou se cada político que entrasse na política pensasse assim? Em dar alegria ao povo além dos palanques? Alegria na educação, na saúde, na moradia? Não, eu nunca ouvi essa frase sendo dita com tanta verdade por nenhum político, que estão sempre com a boca (e os bolsos) cheios para dizer: MEU POVO, MINHA GENTE! E quando chegam ao poder, lembram-se apenas do VENHA NÓS (Ele, a família, o cara do outro partido, o assessor e por aí vai).

Daí eu me vejo no direito de NÃO SENTIR VERGONHA NENHUMA DA MINHA SELEÇÃO, muito menos de um líder que é o Felipão, que carrega nas costas toda a responsabilidade das escolhas, muito menos do Fred por não ter conseguido jogar como gostaria, pois na minha profissão, eu também já cometi erros, eu também já estive em dias de não conseguir dar o meu melhor e fazer o meu gol, embora, ele não fosse em direção à trave, mas no meu campo de vida.

Continuo a me dar o direito de me sentir ENVERGONHADA, REVOLTADA, ENTRISTECIDA de vivermos num país que passou pelo VEXAME DA ESCRAVIDÃO, DO MENSALÃO, DA DITADURA. Vexame de ter o Colo mais uma vez no poder, de ter o Sarney de volta ao Senado e de tantas outras ações que na cara dura fazem do nosso país, da nossa nação, derrotados, pois somos nós quem elegemos e eles quem fazem a festa com a corrupção. E ficamos sempre a vê navios, que, por sinal, nem passam.

Sendo assim, se a maioria do povo brasileiro pode colocar corruptos no poder, que retiram dinheiro da saúde, da educação, pilares basilares para uma sociedade humanamente erguida, em prol de seus benefícios, eu posso pedir e torcer com maior orgulho que a seleção JOGUE O TERCEIRO LUGAR PRA MIM, pois diante do trigésimo oitavo lugar da Educação do Brasil no mundo (tendo recursos para ser uma das primeiras), da posição cinquenta e quatro em saúde no mundo, o terceiro lugar é artigo de luxo e de garra diante do espalhafatoso e cotidiano espetáculo político em que vivemos.

Deixa essa festa ser nossa, deixa a gente ser o terceiro (e para nós, sempre o primeiro) nessa COPA, afinal, nem só de glória vive um campeão!!

BRASIL, JOGA O TERCEIRO LUGAR PRA MIM!!

Luana Ferraz
Enviado por Luana Ferraz em 10/07/2014
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