Foi-se a Copa
Com o barulho da Copa do Mundo,
ninguém reparou que a metade do ano se foi
e que ficamos mais idosos e mais problemáticos.
Carlos Drummond de Andrade
1. Havia prometido a mim mesmo não tecer comentários sobre a acachapante - o termo é esse - derrota imposta à seleção nacional de Futebol, 7 x 1, pelo valoroso escrete alemão.
Tem muita gente escrevendo e falando o que deve e o que não deve sobre a derrapada fantástica dos canarinhos. É técnico de futebol pra tudo que é lado.
2. Ah, mas como cronista - disseram-me pelo telefone, na padaria e até na igreja - você está na obrigação de escrever nem que seja meia lauda sobre este "acidente" esportivo que mexeu com o coração não só dos torcedores do Oiapoque e dos torcedores do Chui; mas dos torcedores, do Oiapoque ao Chui. Entenderam?
3. Não, não me acho na obrigação de comentar sequer um dos sete gols que o Brasil tomou da Alemanha, no esquisito embate do dia 8 de julho de 2014, no Estádio Mineirão.
Nunca fui cronista esportivo. Considero-me, por isso, um bem-aventurado e digo por quê. Em 1974, depois da Copa Mundial de Futebol, na Argentina, escreveu o saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade: - "Bem-aventurados os que não são cronistas esportivos, pois não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura."
4. Sou mesmo, redigo, um bem-aventurado. Já imaginaram o quanto teria eu que suar, se tivesse que explicar a surra que o Brasil levou da gloriosa Alemanha, em Belô, no Estádio Governador Magalhães Pinto?
5. Escrever como um modesto torcedor, o que na realidade eu sou? Ora, a opinião de um modesto torcedor dirá muito pouco sobre a pífia participação da nossa seleção de futebol no campeonato mundial que está por se encerrar.
6. Com certeza não seria uma opinião abalizada pela absoluta ausência de maiores conhecimentos técnicos sobre o assunto.
Atrever-me a opinar sobre a derrota da Seleção, com os recursos que disponho, estarei correndo o risco de dizer asneiras. Iguais àquelas que se ouve daquele cidadão ou daquela cidadã que foi ao estádio "só para ver o Neymar" e que à arena (horrível este nome!) voltará, só Deus sabe quando. É melhor ficar calado.
7. Fechando esta crônica - que preferia nunca tê-la escrito -, quero consolar os chorões e desesperados com a perda do campeonato, transcrevendo este trecho de um texto de Drummond, escrito logo após a Copa de 1974.
Vejam o que disse o Carlos:
"Afinal de contas, o mundo não acabou, com a vitória da Seleção da Holanda sobre a Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Continuou o mesmo, já repararam?
No Brasil estávamos no inverno e permanecemos no inverno, sem neve, e com mulheres mais elegantes sem seus agasalhos, que civilizam a moda.
Nenhum pobre ficou efetivamente mais pobre porque deixamos de fazer os gols considerados indispensabilíssimos para o orgulho (ou vaidade) nacional!
Quem não tomou o pileque do triunfo, mas tomou o da derrota, fez a mesma coisa por motivo diferente e alcançou o mesmo resultado, que é absorver o acontecimento triste ou alegre."
8. Grande Drummond!
Só me resta dizer: inté Moscou, com uma seleção de futebol melhor...
Com o barulho da Copa do Mundo,
ninguém reparou que a metade do ano se foi
e que ficamos mais idosos e mais problemáticos.
Carlos Drummond de Andrade
1. Havia prometido a mim mesmo não tecer comentários sobre a acachapante - o termo é esse - derrota imposta à seleção nacional de Futebol, 7 x 1, pelo valoroso escrete alemão.
Tem muita gente escrevendo e falando o que deve e o que não deve sobre a derrapada fantástica dos canarinhos. É técnico de futebol pra tudo que é lado.
2. Ah, mas como cronista - disseram-me pelo telefone, na padaria e até na igreja - você está na obrigação de escrever nem que seja meia lauda sobre este "acidente" esportivo que mexeu com o coração não só dos torcedores do Oiapoque e dos torcedores do Chui; mas dos torcedores, do Oiapoque ao Chui. Entenderam?
3. Não, não me acho na obrigação de comentar sequer um dos sete gols que o Brasil tomou da Alemanha, no esquisito embate do dia 8 de julho de 2014, no Estádio Mineirão.
Nunca fui cronista esportivo. Considero-me, por isso, um bem-aventurado e digo por quê. Em 1974, depois da Copa Mundial de Futebol, na Argentina, escreveu o saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade: - "Bem-aventurados os que não são cronistas esportivos, pois não carecem de explicar o inexplicável e racionalizar a loucura."
4. Sou mesmo, redigo, um bem-aventurado. Já imaginaram o quanto teria eu que suar, se tivesse que explicar a surra que o Brasil levou da gloriosa Alemanha, em Belô, no Estádio Governador Magalhães Pinto?
5. Escrever como um modesto torcedor, o que na realidade eu sou? Ora, a opinião de um modesto torcedor dirá muito pouco sobre a pífia participação da nossa seleção de futebol no campeonato mundial que está por se encerrar.
6. Com certeza não seria uma opinião abalizada pela absoluta ausência de maiores conhecimentos técnicos sobre o assunto.
Atrever-me a opinar sobre a derrota da Seleção, com os recursos que disponho, estarei correndo o risco de dizer asneiras. Iguais àquelas que se ouve daquele cidadão ou daquela cidadã que foi ao estádio "só para ver o Neymar" e que à arena (horrível este nome!) voltará, só Deus sabe quando. É melhor ficar calado.
7. Fechando esta crônica - que preferia nunca tê-la escrito -, quero consolar os chorões e desesperados com a perda do campeonato, transcrevendo este trecho de um texto de Drummond, escrito logo após a Copa de 1974.
Vejam o que disse o Carlos:
"Afinal de contas, o mundo não acabou, com a vitória da Seleção da Holanda sobre a Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Continuou o mesmo, já repararam?
No Brasil estávamos no inverno e permanecemos no inverno, sem neve, e com mulheres mais elegantes sem seus agasalhos, que civilizam a moda.
Nenhum pobre ficou efetivamente mais pobre porque deixamos de fazer os gols considerados indispensabilíssimos para o orgulho (ou vaidade) nacional!
Quem não tomou o pileque do triunfo, mas tomou o da derrota, fez a mesma coisa por motivo diferente e alcançou o mesmo resultado, que é absorver o acontecimento triste ou alegre."
8. Grande Drummond!
Só me resta dizer: inté Moscou, com uma seleção de futebol melhor...