É preciso caçar
O homem sai de sua caverna. Pela altura do sol, ele já sabe que está na hora de buscar alimento. É uma atividade que se repete desde o paleolítico. Se pudesse, ele abriria mão dessa tradição ancestral e comeria em sua própria caverna. Mas não há comida por lá e nem ao menos as ferramentas adequadas para prepará-la. Não há o que fazer: é preciso caçar.
Sai então o homem de sua caverna. Há muitas gerações que não usa lanças, dardos e flechas: sua arma agora são alguns papéis coloridos com letras, números e desenhos dos dois lados. Quanto mais desses papéis ele tiver, melhor será a sua refeição. Também a dieta que mantém não se parece em nada com a dos seus ancestrais. Houve um tempo em que se comia carne de rinoceronte. Depois os tempos ficaram mais difíceis e só sobravam coelhos, peixes e crustáceos. Havia, é claro, os frutos silvestres coletados pelas mulheres e crianças. Hoje o homem não tem quem colete frutos para ele. Seu prato é feito de acordo com o que a casa de comida oferece.
Antes de tudo, é preciso encontrar uma casa de comida. Existem muitas delas, mas nem sempre é possível encontrar uma aberta. Domingo é um péssimo dia para caçar. É preciso empreender grandes viagens na busca por alimento. O homem então caminha, debaixo do sol do meio-dia. Descobre muitos lugares fechados ou em férias. Julho é um péssimo mês para caçar. Lembra-se então que há um lugar distante onde o alimento está sempre disponível. Deseja chegar lá, mas se dá conta que os cavalos a motor estão em greve. Suspira. Mas, como a fome é maior, decide fazer aquilo que estava evitando.
Havia uma casa de comida que, sabidamente, estava aberta. Só que a caça lá e difícil, exige muitos papeizinhos coloridos. O homem arma-se de coragem e entra. Apronta, enfim, a sua refeição. Por aquele dia, o problema da comida está resolvido. Faz um prato muito mais saudável que o de seus ancestrais. Mas não tem certeza se comeu o suficiente para conseguir defender a sua caverna.