É...

O melhor mesmo seria engolir em silêncio esse Boeing preso em minha garganta. Entretanto, antes de engolir ou de expelir este monstro engasgado (quanto sou dramática!), tento um grito de qualquer forma. Não precisaria dizer exatamente a que me refiro, pois é evidente o que se passa com a maioria dos brasileiros neste pós-Alemanha 7 e Brasil 1. Que nojento é o tal do gol de honra, honra tardia e humilhante.

O que não falta é “caga-raiva” feliz com esse horror, mas, por outro lado, muitos são os indiferentes à marcha da Copa do Mundo 2014. Há inúmeros motivos que geram a indiferença, desde a ignorância inocente daqueles que a coisa alguma têm acesso, aos que vivem miseravelmente e, para esses e estes tanto faz o ocorrido ontem.

“EU SOU EU E A MINHA CIRCUNSTÂNCIA”, disse-o Ortega y Gasset. Então, com isto quero dizer que a minha realidade é outra e nela está importar-se com tudo o que me cerca, com o meu contexto social, com o meu estar entre os outros em convívio civilizado. Civilizado poderia significar também educado, mas tem sido assim: civilizado é aquele que habita e participa da sociedade moderna, mas não necessariamente está garantido que esse sujeito seja educado, polido, cortês, gentil, conveniente.

A minha realidade tem Copa do Mundo, tem o Brasil tentando ser algo, obter sucesso nesse e em outros esportes, nisto não reside mal algum e nem inviabiliza tentar ser algo do ponto de vista educacional, intelectual. Não mesmo. O futebol que conheci nos anos 60, principalmente, era ironizado pela burguesia intelectual, da mesma maneira como espezinhavam as manifestações artísticas populares. Jogador era um homem bruto, totalmente sem estudos, sem etiqueta, sem outra opção além da bola. A bola do mundo gira e muda a realidade. Assim, temos, no Brasil, a época que ficou marcada pela presença de Sócrates, um médico que se tornou jogador. A seguir, e em largas e mal pintadas linhas, vimos os craques de futebol sendo orientados para um cuidado técnico que, segundo muitas opiniões de entendidos e de populares, matou o talento e a criatividade como o demonstrava o injustiçado Garrincha.

O futebol foi ganhando espaço e dinheiro, passou a ser interessante para muitas moças se tornarem as namoradas de craques da bola que ficaram milionários. E aí vem a turma enciumada opinar que essas moças só pensam no dinheiro. Eu que vi muitas Marias Chuteiras pobres e enamoradas de jogadores de times também pobres, não caio na bobagem dos extremos. O fascínio havia por aquele rapaz que parecia, aos olhos das meninas, um herói que metia a bola dentro daquela rede. Outras se apaixonavam pelo herói que não deixava a bola entrar.

Quando os jogadores apareceram mais bonitos, como o Bellini, o Rivellino, o Dinamite, o Cannigia e outros pelo mundo, o fascínio aumentou, da mesma maneira como ficamos, nós, mulheres, fascinadas pela beleza masculina, seja cantando, jogando bola, pilotando um avião ou um carro de Fórmula 1. Convém aqui frisar que sou do tempo em que a mulher gostava mais de homem e o homem gostava mais de mulher. Nisto não vai uma crítica e nem preconceito, mas só um detalhe, digamos, “histórico”.

Veio também o tempo em que o feio passou a ser bonito, assim como aconteceu para os Ronaldos e Ronaldinhos. Têm carrão, têm iate, têm dinheiro, então são belos, guapos, encantadores. Coisas das voltas que o mundo dá. Teve também o caso do Vampeta que ficou famoso por outro detalhe. Agora me lembrei de como eram bonitas as coxas do Gérson. Aquelas coxas eram uma espécie de presente para quem olhava as vitoriosas pernas tortas do Mané. Só a Xuxa achou tanta graça no Pelé, dizem boas e más línguas.

Passamos para a etapa em que os comentaristas midiáticos se danaram a fazer carinho a jogadores de futebol e todos eles eram chamados pelo diminutivo, a partir daí fiquei preocupada. Surgiu uma geração de futebolistas de fisionomia muito fina, de tanta beleza que humilhava as moças. O futebol brasileiro passou a viver uma nova era, indistinta e de pouco show de bola e menos ainda, de gols. O povo se acostumou com essa novidade e ganhar de 1 x 0 passou a ser algo bom! Perderam todos a noção do bom senso e da mínima compreensão do que vem a ser o futebol. Futebol assim, como o da partida de ontem, Brasil 1 x Alemanha 7. Bola atrás de bola, no centro, nos cantos e nas extremidades da trave, pobre trave traveco! Aquilo sim, é futebol, infelizmente tenho que admitir. Aprendeu, Felipão? Aprendeu, ‘seleção’? Baixe a bola, ‘seleção’. O buraco é mesmo mais embaixo.

Futebol é isto, temos que repetir, até mesmo para que venha a conformação, mas, levar de 7 a 1 e logo dos alemães, dói muito mais que demais. Antes perder para os argentinos, que são antipáticos como o Felipão, mas são sul-americanos como nosotros. São metidos a europeus, mas são daqui mesmo, deste lado de cá do Atlântico e são nossos vizinhos, quer queiram ou não.

Esse pessoal chato, mais antipático que Felipão e toda a nação argentina, esse que fica dizendo que o Brasil precisa de Educação, bla, bla e bla, na verdade, está apenas se aproveitando de uma situação para meter a politicagem nisto. Cada um puxando a brasa para a sua sardinha. Precisamos todos estudar sociologia, antropologia e psicologia para que, assim, entendamos como e porque brasileiros e estrangeiros gostam de meter a bola na rede. Até Freud explicaria.

Jogador tem sim que ganhar muito dinheiro, tem que ter direitos e deveres. Da mesma forma temos todos e de todas as profissões. Isto não depende deles. Pensemos bem de quem dependeria. Não adianta, por outro lado, um professor se iludir que superlotará estádios para uma aula. Cada atividade tem sua natureza e essência. O futebol é o futebol, a partida é a partida (nesta fomos reprovados). A educação é a educação e a aula é a aula, nunca conseguiremos o que conseguem cantores, bandas e jogadores de futebol. Nem dá pra imaginar uma aula no Maracanã lotado, cheio de telões e o professor dando aula. Ora, não sejamos tolos. Os médicos também não existem para tal. Cada coisa no seu lugar e precisamos de todas e de cada uma.

Não estou me lamentando exatamente pelo futebol em si, mas pelo que todos podem ver hoje na mídia mundial, a querida palavra Brasil sendo ridicularizada, o país sendo achincalhado por ser ferrado e bem ferrado pelo time alemão, dentro de casa e na Copa das Copas. Mas, eu não terminaria este texto sem tirar uma casquinha e, aqui entre nós, dizer que isto foi um castigo para quem manda uma autoridade tomar no --. Aí está como se toma! E o Boeing não desce e nem sai da garganta, ô peste!