A ressaca

Pois é... o dia amanheceu. Aquelas bandeirinhas penduradas nas ruas, tremulando timidamente sobre o pano de fundo de um céu acinzentado, pareciam a caricatura do sentimento vacilante do torcedor brasileiro.

Ninguém queria perder. Muito menos de uma goleada, inacreditável até para a seleção que a aplicou. Talvez essa nossa paixão pelo futebol, sobretudo durante a Copa, representasse o pouco de orgulho nacionalista de um povo que sofre com o “complexo de vira-latas” e que mantém como hábito nas rodas de conversa, a comparação autodepreciativa em relação aos outros países (especialmente os europeus). Podíamos não ser a nação da saúde, da educação, da segurança. Mas éramos, sem dúvida, o país do futebol.

Pois é. Esse “éramos” bem pode representar uma boa oportunidade para reflexão. Quem sabe, seja esse, o momento de catarse. Quando tivemos negado em nossas veias o efeito anestésico do futebol e assim, livres do transe da vitória, passemos a enxergar necessidades mais urgentes e reais.

David Luiz expressou bem que necessidades são essas, quando ao fim, declarou que queria vencer para ver o povo brasileiro feliz PELO MENOS por causa do futebol. Genuína a intenção do atleta. E não acredito que seu salário milionário compense toda a frustração e vergonha. Mas será que não é hora de pararmos de contar com esse “pelo menos”? Será que não é chegada a hora de QUERER MAIS? E não estou falando de futebol!

Ainda em campo, o que me consolou foi ver o espírito desportivo de grande parte dos torcedores do Mineirão. O aplauso de pé aos últimos gols do nosso algoz, revela um lado do povo, que confesso: não esperava! Não foi um ato de submissão humilhante. Mas de respeito à superioridade técnica do adversário. E isso é muito, mas muito bacana mesmo de se ver!

Agora encararemos o novo desafio de não permitir que a raiva e a tristeza nos traga ainda mais prejuízos. Chegamos à última semana da Copa sem incidentes mais graves e vamos torcer, orar e vibrar para que permaneça assim. Revolta gratuita não nos levará à nada. Passou!

E depois da dar adeus aos nossos irmãos estrangeiros, que em sua maioria foram bem recebidos pela hospitalidade brasileira, vamos dar uma boa olhada na casa, arregaçar as mangas e nos preparar pra arrumar a bagunça. Até porque as Eleições estão aí! E essa, sim, vai nos dar dor de cabeça e muita SUJEIRA pra limpar!

Feminista de Arake
Enviado por Feminista de Arake em 09/07/2014
Reeditado em 09/07/2014
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