A TOMADA DO CONTINENTE POR TROPAS ESTRANGEIRAS

Os reinos daquele continente viviam em paz...

Estrangeiros de além mar chegaram em um dos reinos, territorialmente o maior, e incitaram o rei a que poderia ser mais poderoso e reinar também sobre todos os reinos daquele continente. Ofereceram-lhe ajuda e expertise para o povo não se opor, apoiar e se submeter ao grande reinado. Dispuseram militantes nas escolas, no comércio, nos hospitais, nas praças, nos eventos... para assegurar o êxito do acordo. Solicitaram, como parte do contrato, que o rei providenciasse no continente dois grandes portos; seriam usados para o desembarque gradativo de armas, equipamentos, provisões e soldados.

A vaidade e ganância tomaram assento na consciência do rei, o qual se viu, em imagem antecipada, sentado no seu trono e venerado por súditos daqueles tantos reinos, ao lado de outros reis veneráveis, sendo decantando nos livros de história dos próximos mil anos como o soberano que reinou sobre um continente inteiro. Naquele instante vendeu a sua alma, se não ao diabo a outros senhores que talvez ali o tivessem a representar ou a representar outros interesses escusos.

O rei aquiesceu e recebeu o tratado com a recomendação de seguir suas cláusulas à risca. Passou a contar com o auxilio e supervisão de alguns dos mensageiros que já se encontravam instalados em seu reino e de outros milhares que já estariam entre a população à maneira de lhes ir doutrinando e preparando para os novos tempos. Assim, sem perceber, o próprio rei aceitou ser fiscalizado no cumprimento do desiderato.

O povo sem sentir, começava a ser preparado para as mudanças, e os estrangeiros, infiltrados, proporcionavam festas e acesso a bens e serviços que antes a maioria desprovida de bens materiais e de espírito nem imaginava que teria. Tudo em nome do Rei e de seu Grande Reinado que adviria a passos largos e silenciosos e do qual provavam uma amostra se empanturrando de festas e compras. Quando o dinheiro não dava abriam-se empréstimos em bancos do governo e associados, pois que nesta hora do ganho todos os banqueiros também festejavam. Naturalmente que os nativos, que não tinham o costume de serem assim tratados, principalmente os mais marginalizados e pobres, se esbaldaram nas novidades e ficavam gratos ao rei. A própria marginalidade foi favorecida por estabelecer a desestabilização necessária à anterior estabilização pelo Estado, como a desmontagem gradativa de uma engrenagem para que outra tome o seu lugar. ...assim como que cegamente vendendo suas almas ao Grande Rei que por sua vez já tinha vendido a dele àqueles senhores do além mar.

Os exércitos serão recebidos em dois outros países do continente à maneira de um polvo a abraçar a todos ao mesmo tempo. Os equipamentos de alto poder de fogo, armamentos os mais diversos, uniformes e alimentos, estariam recebidos com a antecipação programada por estes portos aliados ao Grande Rei. No dia "D" receberão o grosso das tropas do golpe que chamará a atenção de todos, e ao lado de cada um cairá a máscara dos infiltrados que minarão imediatamente qualquer resistência. Unida malha dos recém chegados com os exércitos infiltrados não haverá mais surpresa e o ultimato simultâneo será dado a todos os reinos do Novo Reinado.

Ao desembarcar batalhões de soldados com uniformes mais parecidos com armaduras, qual clones feitos em linha de montagem, os soldados serão aplaudidos e ovacionados pelos súditos do país do Grande Rei, causando colapso e histeria nos já então colaboradores do Novo Reino e os que ainda não estiverem alinhados ou preparados serão facilmente dominados pela eficiente ação militar.

Após o cerco, simultânea invasão e travamento das reações será feita uma limpeza dos reis, chefes de estado, autoridades, generais e líderes dos países conquistados que resistirem, inclusive de parte da população quer apresente resistência quer não mas somente para servir de exemplo, a começar pelos intelectuais e mais esclarecidos. A população, nesta altura dos acontecimentos, já foi totalmente desarmada, conforme recomendações e procedimentos do acordo prévio. As forças armadas dos países se é que ainda existem, serão de sobreviventes esfarrapados e com armas obsoletas e mesmo assim com pouca ou sem nenhuma munição e com uma só alimentação por dia nos quartéis... à míngua e sucateadas.

Os exércitos desembarcados ocuparão cada metro quadrado do continente e verificarão embaixo de cada tijolo se porventura se esconde alguma brasa que possa dar início à fumaça. Com o êxito desta etapa darão uniformes e treinarão jovens e crianças desses países a lhe serem fieis e entregarem a própria sombra ao menor indício de traição ou movimento suspeito. A esses jovens treinados, após testes assegurando a completa obediência, ser-lhes-ão entregues armas e a cada um a responsabilidade pelo metro quadrado ocupado. Sim, feito isso, o que não demandará grande tempo, o exército invasor será recolhido gradativamente deixando em seu lugar o jovem nativo com treinamento em armas e fiel aos procedimentos que lhe foram encucados.

Qual ondas do mar que se recolhem em suas vagas, os exércitos estrangeiros voltarão às esquadras e sumirão no horizonte levando aos seus mandantes e mentores o retorno da missão cumprida.

Antes de partirem os mensageiros irão ao agora Grande Rei e lhe entregarão uma chave, a chave simbólica da posse de todos os reinos do continente. À essa chave, dirão, estarão ligados os fios condutores de todos os jovens treinados e armados e que terão obediência cega ao Grande Rei. Ao menor sinal de fumaça embaixo que seja do menor dos tijolos o responsável pelo metro quadrado saberá como agir.

Assim propuseram ao rei e o rei, inflado pela vaidade e talvez preenchendo outros vazios de sua personalidade, aceitou.

Pelas últimas notícias, as armas já estão sendo desembarcadas... E olhando para um e outro lado temos a impressão de estarmos sendo observados.

Armando Valenzuela
Enviado por Armando Valenzuela em 09/07/2014
Reeditado em 09/07/2014
Código do texto: T4875046
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