COPA DAS COPAS 2014 - MANIFESTO

Manifesto do “Cãozinho Arrependido”:

Entre muitos prós e contras a copa "veio que veio" na sua ferocidade desenfreada. E eu nunca havia presenciado tantos burburinhos, conspirações e desconfianças em relação a um jogo desportivo como este. E como andam dizendo por aí que "futebol é uma caixinha de surpresas", fica a pergunta: isso era de se esperar? O mais irônico é dizer que o Brasil não vai fazer as malas pra voltar, porque ele já está em casa e teve seu lar pervertido e achincalhado pelo próprio futebolismo medíocre. Eu pude ler no olhar desesperado de cada torcedor brasileiro "isso não pode estar acontecendo".

Não foi apenas o vislumbre vexatório de uma tradição que parece nunca termos tido, mas uma lição dada a pauladas convenientemente no nosso quintal. Cai a mística de que quando se conhece o território, se vence a guerra. Não fomos vitoriosos, nem de longe. Aliás, sequer vimos qualquer espetáculo a não ser dos estrangeiros germânicos metendo na nossa bunda um belo 7 a 1. E levamos uma surra histórica de preto, vermelho e dourado.

Nas redes sociais pipocaram comentários esdrúxulos, piadas enfadonhas e personalidades do esporte tentando achar os culpados. Eu digo que não acharemos a culpa e tampouco os culpados. Não há razão para alarde, porque o vencedor da partida não seria surpresa, nem tão surpreendente quanto foi o saldo de gols, a derrocada brutal do sonho verde amarelo é que foi o mais duro golpe para a nação.

Muita gente gritava pra substituir fulano por sicrano ou beltrano. Porém, o que ninguém notou é o que realmente precisava mudar no Brasil. A mentalidade. E não obstante, não só a nossa crença fanática de que vivemos num país futebolístico está carente de mudanças urgentes urgentíssimas, porque ele - o futebol pejorativamente moleque - apenas reflete que as coisas aqui parecem que são feitas "nas coxas" e quase sempre atingimos resultados empurrando com a barriga, usando nosso jeitinho brasileiro. A Lei de Gerson parece estar ainda enraizada em cada um de nós como um câncer extemporâneo. Uma falta aqui, uma penalidade máxima que não deram ali, um cartão vermelho esquecido acolá. E essa lei da vantagem - nós acreditando ou não - está perenizada em muitas coisas do cotidiano tupiniquim. Até a polícia tem vulgarmente o apelido de "coxinha", que deixarei para explicar em outra ocasião tomando um cafezinho, se é que me entendem. O que pude perceber é que o futebol conjectura o que a maioria de nós é de verdade, até mesmo aqueles que dizem (batendo no peito) "não gosto de futebol", não estão fora de qualquer vicissitude. Ninguém sairá incólume do que aconteceu.

Pois bem, que assim seja. Agora nós brasileiros é quem devemos entrar em campo e lutar pela saúde, pela educação, pelo transporte, pela moradia. Não é hora de amarelar. Lembremo-nos que despreparo não é o mesmo que covardia e somos um povo que devemos ter orgulho de não sentir medo de lutar. Só não podemos aceitar o falsete, já que sempre tivemos o ritmo certo. Basta acertar o tom. "Fica a dica".

Confesso e admito que aqueles que disseram - e nisso prefiro crer inadvertidamente - "não vai ter copa", estavam certos. Não teve copa pra nenhum de nós, apenas feriados e motivos infundados pra ir pra casa mais cedo tomar cerveja e assar um churrasquinho no meio da semana. Por que o futebol que esperávamos não veio. E não virá mais, pelo menos não pra levantar a taça do primeiro lugar, do hexa tão imaginado. A copa das copas ainda está rolando e tem algumas outras nações mais esperançosas. O que nos resta é sermos bons anfitriões e terminarmos o que começamos. Fazer o que somos bons em fazer: festa, pão e circo. No próximo sábado talvez cantemos outro hino, mais cômico e menos dramático para um embate por um mero terceiro lugar: "volta o cão arrependido, com suas orelhas tão ternas, com suas patas feridas e seu rabo entre as pernas".

Arquiduque de Ignaros
Enviado por Arquiduque de Ignaros em 09/07/2014
Reeditado em 09/07/2014
Código do texto: T4874992
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