Nóis Copa Mais Num Breka

Nóis Copa Mais Num Breka





Leitura obrigatória a crônica do Master Leo aqui do RL, cuja argúcia e elegância desmantelam todos os equívocos conceituais sobre política e A Nossa Grande Arte, o futebol. Qualquer coisa além disso é balela pra boi dormir. Ainda no RL vale conferir o artigo da sra. Glória Cunha Matutina, que por caminhos outros chega num patamar semelhante ao do Leo, colocando as coisas no seu devido lugar. Por fim temos o artigo do sr. Jabor, que não é do RL, mas reúne reconhecida competência em organizar idéias e que no final traduz quiçá um sentimento meio que geral nos brasileiros ligados no pacto civilizatório: a Copa nos tirou um tantinho da mesmice hipnótica de safadezas mil na Pátria do Cruzeiro. Os três artigos foram publicados nas últimas 72 horas e juntos perfazem as peças que faltavam no quebra cabeças de conceitos fajutos, covardes e demagogos presentes senão nos lábios dos desavisados, nas mídias de toda a sorte.

Vuvuzelas atordoam. Gostaria muito de ter uma conversa com o inventor deste argh... instrumento.

Quanto ao meliante que tirou Neymar do certame, faço minhas as palavras do ilustre falecido político portenho: aos amigos tudo, aos inimigos nem a justiça.

Já a tchurminha abaixo de zero que fica atormentado (as vezes com mascarazinhas e fantasias) e brandindo bordões pra boi dormir, coitadinhos, dizendo que se você assiste futebol da FIFA está alienado, é de se perguntar: estes caras estiveram congelados nos últimos 50 anos? O que eles acham que passa na TV quando não se tem Copa? Debates entre o Enistein e o Benjamim Franklin?

Leonilsson (Master Leo) em seu artigo "Por que torço pelo Neymar e não pelo Messi", dá aula de sensatez ao separar cirurgicamente pesos e medidas e no final arremata que a vida é muito curta pra permitir que uma corja de bandidos nos tire o prazer de torcer pela seleção.

Ai, ai, bandidos não nos faltam....

O artigo da sra. Glória, "Vamos acabar com tudo?", desce a lenha nos hipócritas, que em última instância nunca estenderam a mão pra ajudar ninguém e misturam problemas crônicos deste país desde 1501 com um evento dessa natureza.

Cabeças pensantes, quando escrevem, emanam um pouco de coerência nessa vastidão de bobagens que ferem justamente os desmiolados.

Palavra de honra que, quando a Alemanha fez o segundo gol eu não aguentei e desci pra fumar um cigarro. Foi o justo tempo de pegar o maço, apertar o botão do elevador e, ao passar pela portaria, ouço o comentário: 4 a 0. Eu neguei veementemente: não senhor, acabei de descer, estava 2 a 0. "Pois então", retrucou o porteiro, "eles fizeram mais dois". Parecia sério. Lá fora, com o cigarrito na mão, alguém grita de uma janela: 5 a 0!

Passei todo o segundo tempo com o Maurício, porteiro da noite, tendo uma conversa com o menu nos itens "futebol, política, segurança pública, corrupção, etc...", até ele me contar que sua esposa sofre de uma doença rara, cuja aplicação de medicamento controlado custa 9.000 reais. O governo titubeia mas fornece. Na ultima titubeada ela fez quimio e entrou em coma. Copa pra ele é uma realidade longínqua.

Julio César, um trabalhador do edifício ao lado passou por nós e disse: 6 a 0. Papeamos os três até o 7x1.

Me incomodou um pouco uma garotada no boteco da esquina, que resolveu atear fogo numa bandeira verde amarela, depois noutra.

Subi pensando nesta nossa saída um tanto vexatória do mega evento, entretanto, independente deste resultado, tanto as palavras do Leo, quanto da Glória e do Jabor continuam a surtir efeito: é a nossa seleção. Aquelas 5 estrelas não foram conquistadas num show de talentos de bairro. E sim, até domingo o país está em festa, apesar dos nossos 1.200 problemas crônicos e mesmo que não tenham sido nem eu e nem você os articuladores do espetáculo, canarinho entrou em campo e nóis grita. Nesse momento a gente sai um pouco daquela ratoeira maldita de canalhas versus canalhas contra canalhas sobre canalhas.

Para encerrar, vale a crônica recém publicada aqui no RL, do sr. Celso Panza, "Derrota, ética". Uma leitura que coloca os pingos em maiores is nesse desfecho futebolístico.

Enfim, by by Hexa, by by selecinha (gepetão & seus pinóquios), já vou me recolhendo, lembrando de uma máxima que particularmente hoje vale para milhões de brasileiros: escrevo para não falar sozinho.



(Imagem: Norman Rockwell)
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 08/07/2014
Reeditado em 01/12/2020
Código do texto: T4874661
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