Eu, um Paulinho da Viola.
Imagina só: Eu, Paulinho da Viola.
Há se eu soubesse e entendesse.
Há se soubessem e entendessem,
O significado desse nome.
Sabiam? Entendiam?
Sei? Entendo?
Acho que não. Afinal, quem sabe e entende?
Será que o Brasil tem lhe feito justiça, Paulinho?
Chamar de Paulinho da Viola era, pelos meus irmãos, uma forma de me fazer chorar. Somos três, agora, distantes geograficamente. Cada um com seus loucos apelidos na ausência de nomes que lhes possibilitassem abreviações do tipo Didi, ou por ser pior pelas consequências de tornar-se algo externo à nossa relação familiar. As opções iam para o que hoje é chamado bullying. Recorriam às características físicas. Logomarcas de produtos de higiene pessoal, como de um shampoo anticaspa da época que era associado pela fonética ao nome de um de nós. A brincadeira era sempre levada na esportiva pelos dois mais velhos. Eu, o terceiro, talvez pela inocência da idade, não entendia assim e, por não conseguir me defender ou saia no braço ou ia chorar e, independente da primeira reação, a segunda era comum em todas as ocasiões. Nesses casos, a fraqueza é demostrar irritação. Até agora continuo destreinado para esse tipo de atuação.
Passado muitos anos, encontro pela tevê um cara, digo um senhor, amável, simples e talentoso. Sereno nas palavras, doce no cantar. Um gênio da música! Quem é ele que vive assim tão bem com sua arte e que na minha infância ao ser chamado por seu nome me irritava? Motivo de me orgulhar se tivesse maturidade suficiente para saber que era para um infante, elogio ser confundido pela excelência que é ter o dom de expressar através da voz, um som que ecoa suave aos ouvidos afinados pelo belo da canção, que flui de sua garganta.
Talvez a minha redenção esteja na possibilidade de um dia chorar como chora o Paulinho. Paulinho continua chorando o ritmo do choro. Eu cresci e ainda não choro o choro do Paulinho, mas também não choro mais o choro da meninice.