Notinhas da Copa/3
Diria Nelson Rodrigues que, por toda a parte, há caras a meio pau. E que desde ontem à noite todo o Brasil chora e todo o Brasil vela a contusão que tirou Neymar da Copa do Mundo. Citando Brás Cubas, ele diria ainda que até a natureza se associa à melancolia nacional. Os ventos são mais tristes, os ventos são mais inconsoláveis.
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Mas não há de ser nada. Isso já aconteceu na Copa de 62: o Pelé se machucou, entrou o Amarildo e a gente ainda foi campeão. Agora é só usar a mesma estratégia. O Amarildo está hoje com 74 anos, mas ainda deve jogar mais que os nossos atacantes.
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Apesar de perdermos o craque da Seleção, apesar do balde de água fria que isso representa, apesar da dor que a fratura causa, apesar de estimarem em até dois meses o tempo de recuperação, o médico do Brasil ainda conseguiu encontrar pontos positivos no episódio: “É uma fratura benigna”.
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– Essa Copa está comprada pelo Brasil.
– Mas como? E a contusão do Neymar?
– Sinal de que estão disfarçando bem.
– E as bolas do Chile na nossa trave?
– Simples: um ímã na trave e um chip na bola.
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Quando os muçulmanos Benzema, jogador da França, e Khedira, jogador da Alemanha, pegavam na bola, os comentaristas lascavam um “eles não estão cumprindo o Ramadã”. Bolas, vão ver se os brasileiros estão indo à missa.
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A coisa mais próxima de unir brasileiros e argentinos é a Costa Rica. Foi a impressão que eu tive enquanto assistia ao jogo contra a Holanda rodeado por argentinos. Verdade que o jogo não importava tanto quanto os gritos de guerra: “Maradona es mejor do que Pelé” de um lado e “Mil gols, mil gols, mil gols, só Pelé, só Pelé” do outro. Ouvi tanto essas musiquinhas que estou cantando as duas. Uma final Brasil e Argentina: será que merecemos tanto?