A política do pão e circo e as atuais arenas
Por Herick Limoni*
Panen et circenses. Essa expressão em latim definia, na Roma antiga, a política governamental conhecida como pão e circo. Era através dessa política que os governantes lidavam com a população, a fim de manter a ordem estabelecida e conquistar seu apoio. Para isso, construíam-se arenas onde eram travadas sangrentas batalhas e nas quais pessoas se digladiavam. Enquanto isso, a população que a tudo assistia e aplaudia, era suprida com pães, os quais eram arremessados aos montes aos expectadores. A mais famosa dessas arenas é o Coliseu, situado em Roma, capital da Itália. Tal situação é retratada em alguns filmes, dentre eles O gladiador, estrelado por Russel Crowe.
Séculos depois, a política do pão e circo se mostra atual e, por coincidência, ou não, ainda são construídas arenas para o deleite do povo. Podemos citar, a título de exemplo, a Arena Corinthians, a Arena Castelão, a Arena das Dunas, a Arena Amazônia, a Arena Pantanal etc. Estas últimas fadadas a se tornarem grandes elefantes brancos, haja vista as inexpressivas equipes de futebol das regiões onde foram construídas. Mas ao contrário das sangrentas batalhas de outrora, as lutas contemporâneas são travadas entre duas equipes de onze “guerreiros” cada, tendo uma bola como objeto de disputa. Ainda que as “batalhas” de hoje não sejam tão violentas, é possível que algum “guerreiro” seja tirado de combate por algum oponente – vide Neymar no jogo contra a Colômbia.
Outra diferença reside no fato de que o pão de hoje não é mais gratuito. Pelo contrário. Sabe-se que os preços cobrados nas arenas atuais – tanto de bebidas quanto de comidas - beiram à extorsão, principalmente se levarmos em consideração a renda média dos trabalhadores. Mas quem se importa. O que importa é o espetáculo, é a bola na rede, é o entorpecimento que esses momentos de lazer proporcionam. O que importa é o time do coração ser campeão, ainda que se continue tendo uma vida de privações.
Infelizmente, por esse motivo, o Brasil é conhecido como “o país do futebol”, quando o ideal seria que fosse conhecido como o país da educação, da probidade, da igualdade, da distribuição de renda, da saúde pública de qualidade, da mobilidade urbana, da segurança. Enquanto tivermos a pecha de país do futebol seremos relegados a segundo plano pela comunidade internacional e nosso ingresso no chamado primeiro mundo continuará sendo somente um sonho a ser perseguido, mas dificilmente alcançado.
Enquanto nossas crianças correm atrás de bolas e pipas, as crianças dos países desenvolvidos estudam em tempo integral. Longe de mim ser contra o divertimento infantil, afinal de contas brinquei muito quando criança. Mas há de se saber dosar. Minha mãe sempre disse: primeiro a obrigação, depois a diversão. Como já dizia o pensador Ronaldo fenômeno, Copa não se faz com hospitais e escolas. Quem sabe um dia nosso povo dê mais valor às escolas do que às arenas. Quem sabe!
* Bacharel e Mestre em Administração de Empresas