PREDAÇÃO

Caem manacás, jerivás, aroeiras, angicos, pau violas, guarantãs, jequitibás, ingás, guanandis, mulungus, guapuruvus, jacarandás, perobas. Morrem bromélias, begônias, orquídeas, briófitas. Fogem onças pintadas, micos leões,tatus, bugios, capivaras, quatis, gambás, cutias. Voam em desordenada debandada araras, tucanos, beija-flores, sabiás, gaturamos, araçaris, pintores-verdadeiros, picas-paus, periquitos, papagaios.

Avançam incólumes as grandes serpentes negras, com dorso e flancos amarelos, espelhando o terror, entre todas as vidas da Mata Atlântica. Trazem consigo parasitas que percorrem incessantemente seu corpo negro, soltando gases e ruídos estranhos. Em seu interior viajam predadores, que construirão seus ninhos em todos os lugares, ninhos de ferro, tijolo e massa, solapando e impermeabilizando a terra, inviabilizando o desenvolver de vida natural. Aos poucos o bicho homem, “ homo sapiens “, vai destruindo tudo a seu derredor, não deixando pedra sobre pedra, ferindo de morte sua verdadeira casa.

No futuro, os viajantes estelares não mais dirão “ A terra é azul “, tudo será negro e nevoento, sem vida, sem mais momentos de êxtase, apenas uma bola serpenteada e negra, acinzentada, girando numa triste e infinita órbita de ignóbil aridez.