A sóbria desiquilibrada
Sobriedade era o que não faltava, entretanto de tão lúcida, era insuportável. A vida tão rotineira e previsível era um vício difícil de conter. A loucura latente, submersa em discrição gritava e sambava na sua turva alma. Dissimulada se contorcia e mantinha a aparência de coerente, sensata e ponderada. De tanto camuflar um dia começou a transbordar. E foi um transbordamento torrencial, que ninguém pode controlar. Ainda refere-se a si como sábia, mas depois de tudo quem lhe dará créditos. Segue aflita tentando restaurar sua velha armadura, antes tão concisa e a prova de dúvidas, hoje tão fugaz e perene. Derrotada pela fadiga da sua farsa hoje mendiga respeito por onde anda. Em vão ter enlouquecido, continua tão chata quanto antes, mas sem o respaldo da mentira. Um dia quiçá se possa entender sua natureza verdadeira. E então se poderá dizer das ações mal interpretadas que mas vale ser uma bêbada equilibrada, que uma sóbria desiquilibrada.
"qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência"