Aquilo ou isto
Passar por certas coisas para chegar a outras. Atolar o pé na lama para alcançar a trilha certa. O que seria de nós se a vida fosse só de atalhos, de breves partidas e de sombras abundantes durante todo percurso? Como seriam construídas as nossas bases se não tivéssemos que suar para enfileirar os tijolos?
O que seria dos nossos caminhos sem as encruzilhadas, sem os becos sem saída, sem os perigos das curvas, sem as estradas de barro, sem o desconforto do "pare e siga"? A vida nos pede antônimos para acatar os sinônimos. As mãos que nos batem nos ensinam como é bom o carinho que também vem delas.
Necessitamos da trilha do sol para secar os nossos medos no varal; da sombra, para descansar o nosso corpo afoito e dolente; da chuva, para baixar o fogo dos nossos rancores; do despenhadeiro para entender que não se pode ultrapassar certos limites. Precisamos do outro para compreender a força que um cordão de três dobras tem.
Necessitamos da tristeza para relevar as coisas miúdas que desviam o nosso olhar da alegria; da barulheira, para afinar os acordes do próprio silêncio e ouvir a imponente voz do “não dizer nada”. Precisamos do medíocre para buscar a grandeza da humildade; da corda bamba para manter o equilíbrio e da volta para incrementar a força do “estar junto”.