O decreto "soviético" da Dilma

“As palavras dos sábios devem em silêncio ser ouvidas, mais do que o clamor do que domina entre os tolos. Melhor é a sabedoria do que as armas de guerra, porém um só pecador destrói muitos bens.” Ecl 9; 17 e 18

Quando diz que a sabedoria supera armas de guerra, Salomão não está excluindo sabedoria como antítese da guerra; apenas cotejando as duas. Mesmo na guerra a sabedoria dá origem a estratégias que valem mais que muitas armas, como o Cavalo de Tróia, por exemplo. Um pouco antes opõe uma voz a um clamor, como sendo aquela superior a esse, desde que, seja a voz de um sábio, e o clamor de tolos. Assim, a ideia de “vencer no grito”, onde vingar, pagará tributo às paixões, não à razão à sabedoria.

Muitas vezes uma multidão ativista se assemelha a um elefante que pisoteia um cupinzeiro pelejando por alimento aos tamanduás. Destrói em seu barbarismo o que deveria guardar.

A Bíblia está cheia de decisões catastróficas derivadas dos apelos populares, como, a divisão do Reino de Israel quando o jovem Roboão se aconselhou com a galera; a crucificação de Jesus enquanto a ralé anistiava ao assassino Barrabás; o apedrejamento de Estêvão quando sua mensagem contrariou interesse dos líderes que incitaram o povo contra, etc.

A multidão por ser acéfala dilui as responsabilidades e não teme consequências. Como pinguins antárticos se aglomeram pra resistir juntos ao rigor de uma nevasca, esses associam-se e se aquecem com excitação mútua após qualquer fagulha que acenda sua marcha. Com razão, pois, diziam os filósofos gregos temerem mais o juízo de meia dúzia de sábios que discursar para uma multidão; dado que, essa é ignorante.

Se a máxima de um regime democrático é o povo no poder, não o é sem passar por certa assepsia que previne a inflamação das paixões. Assim, temos as “cercas” constitucionais que limitam os atos. Isso, através dos parlamentos que, devem funcionar como conhecedores e preservadores desses limites, filtros racionais contra a barbárie das paixões.

Acontece que o Decreto de Dilma Roussef instituindo os Conselhos de Participação Popular incentivando a chamada democracia direta violenta à constituição, interfere na competência do Legislativo além de inutilizar a Justiça do Trabalho em prol das tais “mesas” de mediação de conflitos. Se tal Decreto extrapola as funções do Executivo invadindo o Judiciário e usurpando o Legislativo, invés de ampliar a Democracia como alegam seus defensores, tem caráter absolutista, ditatorial.

A participação popular prevista na Lei é por meio de eleições. A implementação desse monstrengo, além de outros males, aumentaria sobremaneira a burocracia e instituiria um assembleismo exacerbado de modo que não teríamos mais tempo para trabalhar de tantos conselhos que teríamos que participar. Afinal,não vamos entregar os rumos do país aos “profissionais” da vadiagem institucionalizada como MST, MTST, CUT, UNE e demais sindicalecos a serviço sempre do PT e satélites.

A União Soviética fez isso; empobreceu uma federação de nações, tolheu paulatinamente, direitos e terminou em totalitarismo assassinando oponentes. Por qual razão quereríamos um modelo assim? O Sonho bolivariano não é desconhecido. Visam formar uma federação de nações Latino-americanas aos moldes soviéticos, coisa já avançada em Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Argentina… agora, a cereja da torta, o Brasil.

Se é essa a ideia do PT, que defenda abertamente na próxima campanha eleitoral que se avizinha. Caso vença a eleição, estará legitimado pela maioria do Povo a levar adiante seu projeto. Agora, aproveitar os dias da Copa e tentar aprovar essa estrovenga autoritária e inconstitucional via decreto, isso não.

Como seria, por exemplo, se um conselho de feministas decidisse pela aprovação do aborto; e outro de religiosos pela preservação da vida desde a concepção, qual prevaleceria? Talvez você esteja pensando na maioria. Precisamente a escolha da maioria compõe o Congresso Nacional. Como atua cada um após eleito é outro assunto; cabe aos eleitores acompanhar a atuação de seus eleitos.

Aos incautos pode parecer libertário, progressista avançar rumo a tal meta. Acontece que numa escala de zero a cem, minha liberdade não pode extrapolar a cinquenta, em respeito à de meu semelhante que ocupa o espaço restante. Em última análise, a sanha esquerdopata de distribuir riquezas sem fomentar a sua produção acaba distribuindo empobrecimento nacional. De igual modo, turbinar direitos de quem não cumpre deveres acabará represando insatisfações tais, que só o dique da tirania conseguirá conter, a preço de sangue; coisa vigente, aliás, em Cuba e na Venezuela.

Nosso problema não é falta de boas leis, mas, de aplicação imparcial das existentes. Imparcialidade, aliás, é coisa que esse “Cavalo de Tróia” da Dilma desconhece; aparelha o Estado como ramificações do partido apenas, e apelida de democracia, assim, agrada gregos e helenos.