Improvável Heroína
A lua encandecia soberba sob a amoral heroína ao compasso de sua dança solitária. Queria beber o mundo e queria beber agora (garganta seca, pupilas dilatadas). Olhos vadios prediziam uma alma errante. Disforme, sem nome, sem lugar, sem face, não pertencia; era etérea, era a fumaça de seu cigarro.
Dilacerava-a qualquer tipo de toque ou intimidade, possuía um gato sem nome e observava o mundo como quem olha por cima de um Muro Inexpugnável. Queria fazer amor com A Liberdade. Escondia-se por trás de incontáveis vestes invisíveis.
Era a garota da tatuagem no pescoço.
Dando uma última tragada, dizia (fumaça nos dentes, nicotina no sangue) com sua voz mais profana.
- Meus caros, vocês não sabem da missa a metade...
Esmagando sua bituca com a destreza de quem esmaga um inseto flamejante para poupá-lo da dor do fogo, deu de ombros " Mas quem se importa realmente com os problemas dos outros?".
A lua jaz eclipsada pelas nuvens negras invejosas. O som dos passos da heroína embalam a fria e vazia rua de paralelepîpedos. Ûnicas testemunhas do ocorrido.
G. Amorim