Já passava das 21 horas quando Américo entrou em casa, naquela sexta-feira. Tereza o esperava já bastante irritada, principalmente depois de ter lido no jornal que sexta-feira é o dia internacional do adultério.
- Você está chegando cedo pro jantar de amanhã – lhe disse ironicamente, sem levantar os olhos do jornal. Américo lhe pegou o queixo, delicadamente, obrigando-a a encará-lo, e lhe beijou a testa.
- Hoje não foi um dos meus melhores dias, querida. Tivemos muitos problemas na fábrica.
- Estou vendo. Considerando o tamanho da mancha de baton que você tem na camisa o “problema” tem um gosto exagerado.
- Eu posso explicar, meu amor. Eu encontrei a Regina, aquela que trabalhou comigo anos atrás. Ela estava muito triste porque havia perdido a tia.
- Ah, sei! Aí ela pediu pra você ajudar a procurá-la?
- Não brinque com coisa séria, Tereza. Eu a abracei para consolá-la e ela me sujou de baton. Eu fui levá-la ao cemitério. Você sabe que hoje tivemos greve de ônibus e a coisa mais difícil de se conseguir era um táxi.
- Você, realmente, é muito compreensivo. Só quero ver se você vai ter essa compreensão toda no dia em que eu chegar com uma tremenda mancha roxa no pescoço dizendo que fui consolar um vampiro que não tinha nem uma carotidazinha pra chupar.
- Não seja tola, Tetê, eu estou dizendo a verdade e já que a aborreci tanto quero remediar a situação e levá-la para jantar. Vá se arrumar.
Tereza ficou em dúvida se cedia ou se continuava discutindo. Quando pensou que ia ter que esquentar a comida e lavar a louça, resolveu aceitar o convite de Américo. Vestiu-se com um bonito vestido, calçou sapatos de salto alto e arrumou os cabelos, prendendo-os com uma travessa, não sem antes deixar alguns anéis caindo displicentemente pela face. Américo banhou-se rapidamente e pediu ao porteiro que tirasse o carro da garagem. Abriu a porta para a esposa, como sempre fazia, e começaram aquela viagem, que pareceu um pouco longa demais para ela.
- Onde você está me levando, Américo?
- Você já vai ver, estamos quase chegando.
Deve ser algum restaurante novo – pensou – ele adora lugares diferentes. Fechou os olhos e começou a pensar na vida que vinham levando, nos amigos, na casa confortável, nas viagens que faziam e até se considerou feliz, embora achasse que, ultimamente, sua vida andasse carente de emoções. Depois de quase meia hora Américo estacionou o carro.
- Onde é que nós estamos? Que lugar é esse?
Américo pegou-a pelo braço e ela já não pôde dizer nada, vendo-se no meio de um monte de pessoas que choravam e se abraçavam. O jeito foi segui-lo. Estavam no velório. Regina, chorosa, se aproximou e Américo disse que estavam ali porque sua esposa fez questão de lhe dar os pêsames pela morte de sua tia. Ela não acreditou, Regina, que a mancha de baton que você deixou na minha camisa, hoje à tarde, fosse porque eu a abracei para consolá-la.
- Oh, dona Tereza, mil desculpas. Eu não queria lhe causar nenhum problema. Eu, realmente, estou muito triste e o seu marido foi muito gentil comigo, trazendo-me aqui hoje, quando eu não conseguia um táxi. Ele foi, como sempre, um cavalheiro. Tereza ficou sem saber o que dizer e tentou se desculpar de todos os modos. Uma onda de raiva a invadiu e ela não sabia se matava Américo ali mesmo ou se esperava para chegar em casa. Acabou chorando, em primeiro lugar porque não podia ver ninguém chorar e em segundo pelo “mico” que seu marido a tinha feito pagar. Meia hora depois foram embora. Tereza com ódio de Américo e este se perguntando quanto tempo Regina precisaria para se recuperar daquela perda e voltar para os seus braços ansiosos por todos aqueles carinhos que só ela sabia fazer. Sete dia depois Tereza fez questão de ir à missa pela alma da pobre senhora. Daquele dia em diante sua vida mudou. Ela conheceu o viúvo a quem passou a consolar, visitando-o periodicamente
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edina bravo
Enviado por edina bravo em 05/07/2014
Reeditado em 05/09/2014
Código do texto: T4870940
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