Bernardo?
Bernardo era apaixonado por Milena, mas ela não imaginava. Aliás, nem sabia quem era Bernardo. Ela era loira, usava enormes argolas nas orelhas e tinha uma borboleta tatuada no pescoço.
- O Bernardo da faculdade? Do Audi?
- Não Mi! É o Bernardo da Tijuca. – Falou a amiga, também loira.
Não sabia.
O Bernardo, na verdade, também era da faculdade, mas não do Audi e sim do “quatro-três-quatro-Grajaú-Leblon". O Bernardo da sala dela.
- Paty! Que Bernardo é esse?
- Da nossa sala doida! Ele senta lá atrás.
- Bernardooooo???
- É! Aquele do cabelo bagunçado.
O Bernardo que segura a porta do elevador, que assina presença pra ela nas aulas de Elaboração do Trabalho Monográfico e de vez enquanto empresta o fogo.
- Marcelo!
- Não Milena! É Bernardo! Ber-nar-do.
- Não, Marcelo é que tem o cabelo bagunçado.
- Do Marcelo é corte de salão, do Bernardo é desleixo.
- Bernardo?
- Isso.
Contrariou.
O Bernardo que a vigia de longe, quando espera a carona da mãe. O Bernardo que cede lugar pra ela sentar ao lado das amigas na cantina. O Bernardo que ela já agradeceu com um “obrigado”. Bem brando, mas um “obrigado”. Ele não esquecia.
- Aquele menino que fizemos o trabalho em trio no mês passado.
- Foi em trio?
Não foi em trio. O incógnito fez tudo sozinho. Desta vez ela tinha agradecido com um “valeu” quando viu o trabalho prontinho. Bernardo até achou aquele “valeu” sincero. Tiraram dez.
- Lembrou?
- Não!
- Aquele que bebeu todas no churrasco da nossa turma. Lembra?
O Bernardo que bebeu por ela. O Bernardo que ela fez ficar bêbado. O Bernardo campeão do vira-vira. O Bernardo que queria aparecer.
- Aquele que vomitou no banheiro todo e depois desmaiou no jardim?
O próprio.