A peste corrupta
Olá, bom dia. Escrevo este texto para dizer a você que eu estou presente todo dia na sua cidade. Sou uma pessoa que você acredita ser um cidadão humano, decente e honesto. Procuro passar essa imagem, afinal, é esta que me dá um belo dinheiro. Finjo não gostar das injustiças, ser amigo dos pobres e não aguentar mais as mazelas que assolam a sociedade. Mas, na realidade, eu gosto de tudo isso. Adoro quando acontece uma tragédia, crime ou assassinato. Isso é combustível para eu falar muito e me promover.
Eu, além de ganhar dinheiro com a sua audiência e confiança inocente, também tenho outros “jeitinhos” de faturar bem. Faço uma chantagenzinha aqui, uma babadinha ali, um “projeto” aculá e assim vou incrementando o meu soldo.
Eu sou um vírus difícil de ser combatido. Gosto também de me meter em política, seja apoiando candidatos ou babando prefeitos, governadores, senadores e deputados. Há uns seres da minha espécie que já tiveram cadeiras nos poderes executivo e legislativo. Alguns ainda têm. Esses realmente sabem como ganhar dinheiro (risos).
Sim, tem muitos irmãos meus que adoram usar o nome de Deus para se promover. A primeira coisa que dizem quando vão comentar um crime é o famoso clichê: isso só pode ser falta de Deus.
É muito fácil você encontrar “um dos meus” em sua cidade ou região. Basta ligar a TV, ouvir o rádio, ler jornais, revistas ou portais. Fazendo isso, a probabilidade de você me assistir, ouvir ou ler é grande. Eu sei muito bem usar a mídia e você para me promover.
Antes de terminar esse meu depoimento, eu gostaria de alertá-lo que dificilmente você vai conseguir acabar com a minha espécie. O melhor remédio para me combater e diminuir a peste que eu causo é o governo vacinar a população com uma educação decente. Mas não esqueça que eu também estou presente na política e não permitirei que inventem essa vacina.
Vocês vão ter que me engolir, aturar, já que a corrupção no Brasil não tem cura, pelo menos, por enquanto não.