Nos sertões de Taubaté
Diz a história que Dom Pedro I dormiu uma noite na cidade de Taubaté, poucos dias antes de proclamar a Independência do Brasil. Ora, uma das mais nobres funções dos imperadores era justamente a de dormir nas cidades por onde passavam, embora não houvesse nisso nada de extraordinário, pois em algum lugar eles forçosamente haveriam de dormir. Em Taubaté, isso aconteceu por uma única noite. Feitas as contas, estou em vantagem, pois já cheguei à marca de sete noites dormidas na cidade nos últimos anos. É bem verdade que, depois de sair de lá, eu não dei nenhum grito às margens do Ipiranga, nem proclamei coisa alguma, mas também é preciso reconhecer que já não havia necessidade para tanto.
Sertões de Taubaté! Por este nome se conhecia a cidade no tempo do Capitão Jacques Félix, o bandeirante que explorou a região e nela fundou uma vila. É por ele que se começa a história, pois era branco e europeu, bem diferente da tribo dos guianás que já habitava o lugar. Por justiça, deveria se começar pelo dinossauro que há 23 milhões de anos vivia no Vale do Paraíba, segundo sou informado no Museu da História Natural. Todas as datas por lá são de embasbacar, e foi bom que eu as visse, pois assim eu não me acho grande coisa só por descobrir antepassados que viveram há míseros 300 anos.
Mas isso são coisas que passaram. Hoje a cidade vive outra era, uma em que 180 mil veículos precisam arrumar algum espacinho nas ruas. Da mesma forma que todo brasileiro é um treinador de futebol em potencial, todo taubateano é um engenheiro de trânsito, pois não há ali quem não tenha as suas próprias estratégias para melhorar o tráfego. Há sempre essa ou aquela rua que poderia ser mudada de mão. Presto atenção no que dizem, mas a verdade é que nada disso me afeta. Aqui ou em qualquer outro lugar, eu ando principalmente a pé.
Não era assim que os bandeirantes faziam? Não estou atrás de ouro, não quero aprisionar nenhum índio – mas que eu exploro terras, eu exploro.