Fugindo de todo mundo

Chegou de mansinho e foi se sentar longe de todo mundo. Tinha medo de ser reconhecido. Se isso acontecesse, alguém fatalmente viria perguntar o que ele estava fazendo ali sozinho e convidaria a ir se sentar com o resto do pessoal. Ele ficaria sem jeito e acabaria aceitando, mesmo sem ter vontade, porque não sabe dizer não. E por que não se senta com os outros? Nem ele sabe direito. Não se sente à vontade, acha que todo mundo está olhando para ele. Já quebrei a cabeça tentando ajudar, mas a gente nunca sabe o que fazer para ele se sentir melhor. Desta vez eu mandei uma mensagem pelo celular perguntando se podia me sentar ao lado dele. E fui.

Àquela altura o jogo já havia começado e todo mundo olhava sem piscar para o telão. Ele parecia agitado, mas não por conta da partida. Segurei suas mãos na tentativa de acalmá-lo. Perguntei se isso ajudava e ele disse que não. Resolvi ficar quieto assistindo ao jogo, mas ele começou a falar. Sempre o mesmo drama: ele quer se enturmar, mas não consegue suportar estar no meio de uma turma. Ouvi em silêncio e depois perguntei o que eu podia fazer para ajudá-lo. Ele disse que não sabia, que ninguém sabia, que era sempre assim. Ainda tentei sugerir alguma coisa, mas ele respondeu com rispidez. Falou que eu não sabia como era. Bem nessa hora o Brasil fazia 1x0, mas a gente não comemorou.

Perguntei se ele se importaria caso eu voltasse aos meus amigos e ele apenas grunhiu. Voltei, e só tornei a vê-lo no intervalo. Estava do lado de fo-ra e hesitava entre ficar e ir embora. Caminhava uns passos, parava, dava meia volta... não sabia o que fazer. Desejava estar em casa, onde assistiria ao jogo sem sobressaltos, mas também achava que não podia continuar fugindo de todo mundo. Eu o contemplava no meio desse conflito. Senti pena e, como ele ainda não havia me visto, resolvi chamá-lo.

Ele se envergonhou por ter sido pego em flagrante. Mas veio até mim. Eu é que não fazia a menor ideia do que falar a ele.