Diagnóstico
Rosa Pena
Samuel havia perdido quase tudo, exceto seus sonhos que insistiam em morar dentro dele montados num burro, seu amigo imaginário, aliás, o único amigo que permaneceu ao seu lado diante da miséria.
Aquele verão foi brabo. Castigou tanto o solo, já árido, que a única água para beber era a do seu suor e de suas lágrimas.
Então, resolveu partir para longe. Sem bens, sem voz, sem ninguém para dar adeus. Foi apenas com seu burrico inventado, que zeloso carregava seus últimos devaneios. A princípio imaginou-se montado nele, suavizava a caminhada, depois, porém, concebeu o cansaço do companheiro e resolveu prosseguir lado a lado com ele. Solidário como os verdadeiros amigos devem ser, pelo menos assim se idealiza.
Atravessaram um deserto impiedoso e ambos ficaram esgotados. Pairou-lhe então as desconfianças que não conseguiriam continuar o caminho. Assaltados pela fome e pela sede...Ah! Um dos dois tombaria de vez. O burrico tombou primeiro, assim resolveu Samuel, mas a preciosa carga ainda estava quase completa, exceto pela sentença de morte que ele criou para o amigo.
O homem ficou na louca dúvida se comia um pedaço da carne do burrico, assim quem sabe tivesse forças para continuar viagem, ou se o enterrava e desistia de seguir. Ficaria na espera de sua hora chegar.
E A carga de quimeras?
Esquecida, deixada de lado, transferida para depois, depois, depois...
A fome se fez tanta que optou por comer um pedaço do imaginário burrico. Comeu com muita culpa, então ela não saciou sua fome. Numa decisão prática (tirocínio de executivo) resolveu abdicar da carga de vez. Enterrou-a bem no fundo de sua cabeça. Tentaria seguir só. Não teve forças para mais nada. Tombou bem próximo aos restos dos seus fantasmas. Idiotamente comeu a ração errada. Se tivesse insistido em seguir de alma cheia ainda que de barriga vazia talvez estivesse vivo.
Morreu de inanição de sonhos. Este é o jejum mais fatal da existência. A humanidade atualmente tem anorexia de fantasias.
Rosa Pena
Samuel havia perdido quase tudo, exceto seus sonhos que insistiam em morar dentro dele montados num burro, seu amigo imaginário, aliás, o único amigo que permaneceu ao seu lado diante da miséria.
Aquele verão foi brabo. Castigou tanto o solo, já árido, que a única água para beber era a do seu suor e de suas lágrimas.
Então, resolveu partir para longe. Sem bens, sem voz, sem ninguém para dar adeus. Foi apenas com seu burrico inventado, que zeloso carregava seus últimos devaneios. A princípio imaginou-se montado nele, suavizava a caminhada, depois, porém, concebeu o cansaço do companheiro e resolveu prosseguir lado a lado com ele. Solidário como os verdadeiros amigos devem ser, pelo menos assim se idealiza.
Atravessaram um deserto impiedoso e ambos ficaram esgotados. Pairou-lhe então as desconfianças que não conseguiriam continuar o caminho. Assaltados pela fome e pela sede...Ah! Um dos dois tombaria de vez. O burrico tombou primeiro, assim resolveu Samuel, mas a preciosa carga ainda estava quase completa, exceto pela sentença de morte que ele criou para o amigo.
O homem ficou na louca dúvida se comia um pedaço da carne do burrico, assim quem sabe tivesse forças para continuar viagem, ou se o enterrava e desistia de seguir. Ficaria na espera de sua hora chegar.
E A carga de quimeras?
Esquecida, deixada de lado, transferida para depois, depois, depois...
A fome se fez tanta que optou por comer um pedaço do imaginário burrico. Comeu com muita culpa, então ela não saciou sua fome. Numa decisão prática (tirocínio de executivo) resolveu abdicar da carga de vez. Enterrou-a bem no fundo de sua cabeça. Tentaria seguir só. Não teve forças para mais nada. Tombou bem próximo aos restos dos seus fantasmas. Idiotamente comeu a ração errada. Se tivesse insistido em seguir de alma cheia ainda que de barriga vazia talvez estivesse vivo.
Morreu de inanição de sonhos. Este é o jejum mais fatal da existência. A humanidade atualmente tem anorexia de fantasias.