Sou esquisito, e daí?
Sou meio que fadado a cometer certas esquisitices. Algumas são involuntárias, fruto de minha herança genética, outras não. Coloco entre as compulsórias a minha alergia. Era um garoto que espirrava sem parar. Nariz sempre vermelho, escorrendo. O lenço era a minha companhia. Minha mãe acreditava que eu vivia resfriado. Resfriado 365 dias por ano?
Decidiram visitar um médico que nos encaminhou a um imunologista. Descobri que era alérgico a dezenas de substâncias. Na época passava um filme: “O Garoto da Bolha de Sabão”. Era a história real de um menino norte-americano que morreria se entrasse em contato com germes de qualquer tipo; foi condenado a viver isolado, dentro de uma bolha de plástico.
Meu caso era muito menos drástico, mas minha família teve que se livrar de carpetes, cortinas, bichos de pelúcia, sofás, tapetes, cobertores e roupas de lã ou qualquer outra substância que permitisse a propagação de ácaros. Ácaros? Um bichinho feio, que visto ao microscópio daria um sensacional personagem de filmes de terror. Ele se infiltra em nossas narinas e corrói as mucosas. Irrita profundamente algumas criaturas, os alérgicos, que espirram sem parar até morrer.
Um dos remédios era a natação. Eu deveria nadar sempre que pudesse. Foi para mim uma libertação. Minha casa tinha uma pequena piscina a qual eu era proibido de freqüentar devido ao resfriado permanente. Minha mãe quase teve um colapso ao perceber que o remédio estava tão perto e que ela me proibira de usá-lo por anos a fio. Além da água fria eu devia utilizar doses de vacina que iam sendo espaçadas com o passar do tempo. Fui vacinado por 4 anos. Devo dizer que melhorei muito, mas ainda espirro quando exposto a uma grande gama de substâncias que me causam alergia.
Entre as esquisitices voluntárias cito a minha mania de ser honesto. Vou dizendo: no Brasil é um drama procurar fazer a coisa certa. Não me conformo com colegas que se utilizam do serviço público para atender a interesses pessoais. Sempre conto o troco e dezenas de vezes devolvi a diferença – que sempre me é repassada a maior. O caso mais recente foi uma feijoada beneficente: cobraram dois ingressos quando deveria pagar quatro. Reclamei: eu devo dois a mais. A pessoa assustou-se: é tão estranho encontrar alguém honesto. Estranho?
Não, não quero fazer uma apologia das minhas virtudes. Pretendo chamar a atenção dos meus pares humanos: estamos tão acostumados ao errado que nos assustamos ao deparar com o que é certo!
Ser honesto não é virtude, é obrigação. Dever mínimo de qualquer ser humano. Quase matei outra pessoa ao devolver um celular que encontrei na rua. Era um modelo último tipo. Com câmera, MP3 e diversas inovações. Percebi que era de uma adolescente. Possuía as suas fotos e a de toda a família. Vasculhei a agenda e disquei para um tal de “Papai”. Estava fora de área. Esperei por uma ligação. Meia-hora depois a mãe da jovem marca de buscar o aparelho em minha casa. Ela não acreditava que eu havia atendido ao telefonema e prontamente, sem aceitar recompensa, tenha devolvido o aparelho. Ela me olhava como se eu fosse um alienígena, um espectro. Disse que rezaria por mim até o fim dos meus dias – espero que esteja cumprindo sua promessa.
Diante da insanidade coletiva na qual estamos mergulhados, fico aqui com minhas esquisitices – as não compulsórias me fazem um bem intenso!
Sou meio que fadado a cometer certas esquisitices. Algumas são involuntárias, fruto de minha herança genética, outras não. Coloco entre as compulsórias a minha alergia. Era um garoto que espirrava sem parar. Nariz sempre vermelho, escorrendo. O lenço era a minha companhia. Minha mãe acreditava que eu vivia resfriado. Resfriado 365 dias por ano?
Decidiram visitar um médico que nos encaminhou a um imunologista. Descobri que era alérgico a dezenas de substâncias. Na época passava um filme: “O Garoto da Bolha de Sabão”. Era a história real de um menino norte-americano que morreria se entrasse em contato com germes de qualquer tipo; foi condenado a viver isolado, dentro de uma bolha de plástico.
Meu caso era muito menos drástico, mas minha família teve que se livrar de carpetes, cortinas, bichos de pelúcia, sofás, tapetes, cobertores e roupas de lã ou qualquer outra substância que permitisse a propagação de ácaros. Ácaros? Um bichinho feio, que visto ao microscópio daria um sensacional personagem de filmes de terror. Ele se infiltra em nossas narinas e corrói as mucosas. Irrita profundamente algumas criaturas, os alérgicos, que espirram sem parar até morrer.
Um dos remédios era a natação. Eu deveria nadar sempre que pudesse. Foi para mim uma libertação. Minha casa tinha uma pequena piscina a qual eu era proibido de freqüentar devido ao resfriado permanente. Minha mãe quase teve um colapso ao perceber que o remédio estava tão perto e que ela me proibira de usá-lo por anos a fio. Além da água fria eu devia utilizar doses de vacina que iam sendo espaçadas com o passar do tempo. Fui vacinado por 4 anos. Devo dizer que melhorei muito, mas ainda espirro quando exposto a uma grande gama de substâncias que me causam alergia.
Entre as esquisitices voluntárias cito a minha mania de ser honesto. Vou dizendo: no Brasil é um drama procurar fazer a coisa certa. Não me conformo com colegas que se utilizam do serviço público para atender a interesses pessoais. Sempre conto o troco e dezenas de vezes devolvi a diferença – que sempre me é repassada a maior. O caso mais recente foi uma feijoada beneficente: cobraram dois ingressos quando deveria pagar quatro. Reclamei: eu devo dois a mais. A pessoa assustou-se: é tão estranho encontrar alguém honesto. Estranho?
Não, não quero fazer uma apologia das minhas virtudes. Pretendo chamar a atenção dos meus pares humanos: estamos tão acostumados ao errado que nos assustamos ao deparar com o que é certo!
Ser honesto não é virtude, é obrigação. Dever mínimo de qualquer ser humano. Quase matei outra pessoa ao devolver um celular que encontrei na rua. Era um modelo último tipo. Com câmera, MP3 e diversas inovações. Percebi que era de uma adolescente. Possuía as suas fotos e a de toda a família. Vasculhei a agenda e disquei para um tal de “Papai”. Estava fora de área. Esperei por uma ligação. Meia-hora depois a mãe da jovem marca de buscar o aparelho em minha casa. Ela não acreditava que eu havia atendido ao telefonema e prontamente, sem aceitar recompensa, tenha devolvido o aparelho. Ela me olhava como se eu fosse um alienígena, um espectro. Disse que rezaria por mim até o fim dos meus dias – espero que esteja cumprindo sua promessa.
Diante da insanidade coletiva na qual estamos mergulhados, fico aqui com minhas esquisitices – as não compulsórias me fazem um bem intenso!