Um dia de inverno
Era um pequeno paraíso particular: a sua sala de estar. Um tapete de cor escura cobrindo a cerâmica de cor clara quebrava a frieza que emanava do chão. O ruído da TV ligada não chegava a me incomodar, eu estava mais interessada em outro som, esse tum-tum tão conhecido meu que bate dentro do seu peito onde, ali, me aninhava. Seu peito nu subindo e descendo ao compasso da respiração leve, minhas mãos desfilando sobre a sua pele morna, levemente arrepiada, iam do pescoço à pélvis, provocando um gemido de doce reclamação de sua boca. Linda boca. Eu o observava atentamente, querendo gravar em minha mente aquela cena para sempre. As linhas do teu maxilar tão bem talhadas, as orelhas pequeninas, o olhar fixo nas cenas do filme de terror que rodava. Olhos negros brilhantes, como o céu de uma noite sem estrelas. Os cabelos negros, emaranhados, que caíam-lhe levemente sobre a testa, me levando a, num ímpeto quase automático, erguer a mão e tirá-los de lá. Adoro a sensação dos teus fios entrelaçados nos meus dedos.
Suas mãos acariciavam meu pescoço trazendo arrepio constante à minha pele. Esse toque é quase anestesiante, capaz de abrir o portal de uma dimensão paralela e me fazer viajar. Nossas pernas entrelaçadas confudem o tom pálido das minhas com o moreno chocolate das tuas. Brincam, convidam-se. Ignorando a presença do espírito demoníaco do filme que passa, concentro-me no tilintar das gotas de chuva que parecem tocar uma sinfonia lá fora. Fecho os olhos e aspiro aquele cheiro delicioso de terra molhada que alcança meu cérebro me levando a torpor imediato. Logo, é o perfume de sua pele que se mistura ao ar do ambiente. O toque adocicado de ervas finas mistura-se à loção pós-barba. O perfume perfeito.
Não resisto. A maciez de tua pele convida a minha boca. Beijo-o delicadamente, pescoço e nuca. Ouço o primeiro gemido de reclamação e um “aff” abafado. Não me culpe. Provocá-lo, enchê-lo de mimos, beijos e carícias é tudo o que sei e quero fazer. Suas mãos descem, encontram minha nuca, puxando-me para mais perto. Nossos olhares se encontram e se conversam. Me perco na tua retina. E vem o beijo. Leve, doce, gentil. Que vai, aos poucos, me devorando, me enlouquecendo, me tomando. Sua língua invade a minha boca, buscando, exigente, um contato mais profundo e íntimo. Mãos que se tocam, que viajam incansáveis nos corpos sôfregos um do outro. E num instante, esquecemos o mundo lá fora. Somos só eu e você e o sentimento desesperador que domina-nos, que nos faz querer entregar-se um ao outro sem limitações. Num dia frio de inverno...