Bunda de homem
Se você não estiver se sentindo bem humorado (a), nem continue lendo esta crônica. Ontem vi no Facebook mulheres muito animadamente referindo-se a bunda de jogadores. Tenho pensado sobre o tema, não apenas sobre jogadores, mas sobre essas tendências, digamos, pós-modernas. Nada contra preferências e nada de preconceitos, mas apenas um relato que vai dar em uma época que é a da minha infância e juventude. Aqui entra a repetida frase que começa dizendo “eu sou do tempo em que...”. Sou do tempo em que palavra alguma que se referisse a regiões íntimas do corpo humano poderia ser dita publicamente, nem mesmo aos médicos. Claro que havia um exagero nessa época e logo em uma cidade provinciana e tradicionalista como Aracaju. Nem tanto ao mar... Então, naquela quadra dos 60 e mais um tanto da década de 70 seria um caso muito sério falar de bundas. Bunda de homem menos ainda. Dizia-se que bunda de homem que era homem mesmo tinha que ser magra, uma tábua ou algo assim. Um homem bundudo seria uma vergonha familiar, um desdouro! Logo teria que colocar aquele menino da bundona para emagrecer e a vontade que tinham mesmo os pais era de que aquela mala sumisse da avaliação dos familiares, dos vizinhos, dos amigos. Quando as adolescentes começavam a admirar um rapaz, digo a vocês, como acontecia o olhar sobre o físico. Olhava-se primeiro para o todo, a fachada, o panorama. O rosto másculo e bonito, os ombros um tanto largos, o peito levemente afundado dentro da camisa entreaberta. A boca, ah, a boca! A voz desempenhava relevante papel. Os braços, as mãos fortes sem que fossem grosseiras, os braços... A gente ainda não usava a expressão “ter pegada”, mas era isto no pensamento, aqueles braços precisavam demonstrar ter pegada. Da cintura para baixo, a gente olhava meio encabulada, mas olhava. Notávamos a beleza das coxas sob as calças do estilo social, pois não se andava metido nessas horríveis bermudas. E ali, bem no local dos botões da braguilha, víamos algo que nos acendia, aquele volume do qual pouco ou nada sabíamos. Quando dançávamos, a vontade era se encostar naquela região central, mas, quem seria louca? A gente dançava bem esticada para trás porque todos os olhos se voltavam para as nossas estratégias. Mas, antes que eu me esqueça, o que a gente não prestava atenção mesmo era na bunda dos rapazes. Quando, na praia, antes dessas sungas deprimentes, os rapazes usavam uns shorts bonitos, com um cordão que parecia nos pedir para ser desatado. E as bundas? Claro que eles tinham bundas, mas comportadas, elegantes, discretas. De toda forma, as moças não se interessavam mesmo por esse detalhe, fosse redondo ou quadrado. Eis que nestes tempos carnívoros as jovens, as de meia idade e até mais velhas mulheres fazem questão de externar o gosto pela bunda arredondada, proeminente, tanto nos jogadores quanto nos homens em geral. Estou tentando entender como essa preferência quase nacional se formou, pois eu não sei que outra coisa quer uma mulher, além do que se localiza na fachada e o que é que elas fazem com esses volumes traseiros.