UM PRESENTE DE DEUS
Em 2001 Lys era casada, uma mulher adulta, com um casal de filhos bem pequenos. Sua mãe Tekinha, apelido carinhoso pelo qual era chamada, havia se separado de seu pai quando Lys tinha apenas dez anos de idade. Desde então, nunca mais Tekinha havia se comprometido com outro homem. Lys e seus três irmãos menores foram criados sem pai nem padrasto. Mas isto não afetou a educação primorosa que a mãe, com muito trabalho e esforço, como simples costureira trabalhando em casa, tendo apenas o ensino fundamental, conseguira prover aos filhos, tanto por seu exemplo de vida, quanto por tê-los mantido em bons colégios particulares, com bolsas de estudos que ela obtivera com bastante dificuldade.
Era o alvorecer do novo milênio. Os filhos, já adultos e “estudados”. Com sua missão maior realizada, Tekinha completara setenta anos em junho de 2001. Mas, por diversos problemas de saúde, inclusive fragilidade cardíaca, havia mais de uma década que ela não costurava “para fora”, expressão que utilizava para dizer que não podia mais usar seu talento com tecidos para sustentar-se. Ela já havia estado em coma por três vezes e sido internada em Unidade de Tratamento Intensivo - UTI, sempre com edema pulmonar grave.
O coração tão amoroso daquela admirável mulher, filha nata dos seringais acreanos, que tanto lutara e sofrera desde criança, que crescera longe de seus pais, criada junto com os primos por uma tia muito severa, sem nenhum irmão “de sangue” e sem o apoio do único homem por quem se apaixonara, ficando com quatro filhos pequenos "para criar", já estava fraquejando, e sua vida poderia ser comparada à chama de uma vela apagando-se lentamente.
Tekinha morava com um dos filhos, o único ainda solteiro, o qual lhe devotava toda sua atenção e amor. Lys e os irmãos angustiavam-se, mas nada podiam fazer senão procurar melhorar a qualidade de vida de sua mãe. Ela se recuperara bem da última internação e estava com a saúde relativamente estável há algum tempo. Os netos, ainda pequeninos, não tinham consciência do drama familiar.
Então, em dezembro de 2001, numa crise de edema pulmonar incontornável, Tekinha deixou a terra dos vivos para alçar vôo em direção ao Criador. Sua ausência, muito sentida por todos que com ela conviveram, e a intensa saudade que fez morada permanente no coração de seus filhos, cristalinamente atestavam a influência benfazeja que sempre se expandira daquela mulher e mãe.
Lys chorou muito, mas não se desesperou. Ela se surpreendia com isso, pois sempre pensara que, quando sua mãe falecesse seria uma catástrofe inominável da qual jamais haveria recuperação. Entretanto Lys conseguira absorver o fato e senti-lo como uma simples viagem que sua mãe fizera, para um dia certamente se reencontrarem.
Em grande parte, toda a serenidade de Lys originava-se de um acontecimento especial que vivenciara com a mãe, cerca de poucos meses antes. Em meados de 2001, Lys havia sido convidada a assistir uma palestra pública da Seicho-No-Ie sobre empreendedorismo e como gerenciar melhor a vida e o trabalho. Ela foi ao evento com alegria. Era um final de semana, e sem ter com quem deixar seus pequenos filhos, pediu à mãe e ao irmão solteiro que cuidassem deles.
A palestra foi interessantíssima e, dentre as muitas mensagens ali expostas, uma calou mais profundamente em Lys. Era a que discorria sobre a importância da família, e de como se deve amar e honrar os pais, e ainda mais, como é totalmente fundamental agradecer-lhes o dom da vida e toda a sua dedicação, e como não se deve deixar isso para depois, na premissa de que eles já sabem o quanto são amados.
Lys retornou cheia de energia positiva e determinada a expor à mãe tudo o que estava represado em seu coração. Chamou-a ao quarto para poder falar-lhe reservadamente. Naquele lugar simples, ocorreu algo verdadeiramente extraordinário!!!
Ali, na intimidade e no aconchego, houve o seguinte colóquio:
- Mãe, eu preciso lhe falar algo muito importante.
- O que você quer me dizer, minha filha?
- Mãe, eu quero abraçar-lhe e dizer que a amo infinitamente!
Abraçaram-se e mantiveram-se em pé e de mãos dadas, olhos nos olhos, durante todo o diálogo.
- Eu sei, minha filha, e também te amo da mesma forma.
- Mãe, eu quero lhe agradecer por tudo o que a senhora fez por mim, pela vida que me deu, pelos cuidados que teve para comigo, quando eu era pequena, quando eu crescia, quando estava doente, quando tinha tarefas escolares, quando me sentia sozinha, quando precisava de uma presença amiga, sempre, em todos os momentos e, apesar das dificuldades, a senhora nunca desistiu de mim!
- Minha filha, eu só fiz o que uma mãe deve fazer...
- Mãe, eu também quero pedir perdão pelas preocupações e chateações que lhe tenha causado, pelos momentos de incompreensão, se eu lhe fiz chorar, se eu lhe magoei, mãezinha, eu peço que me perdoe.
- Minha filha, eu não tenho nada a perdoar, você é uma boa filha, me deu tantas alegrias, sempre foi o meu “calmante”, só tenho é muita saudade quando estou longe de você.
Ambas se emocionaram e seus olhos ficaram cheios de lágrimas.
- Mãe, eu quero pedir a sua benção e colocar minha cabeça em seu ombro, para que a senhora possa embalar-me e acalentar-me como se eu ainda fosse pequenina.
- Minha filha, que Deus te abençoe hoje e sempre! Coloque aqui a cabeça, que eu vou cantar baixinho, como quando você era a minha pequenininha.
Nesse momento, estando ambas ainda em pé, Tekinha pegou a cabeça de Lys, deu-lhe um beijo na testa, recostando-a com imensa ternura sobre seu ombro direito e a embalou lentamente de um lado para o outro, sem sair do lugar, ninando baixinho, sem palavras, apenas emitindo um som suave anasalado, por alguns instantes, em que o tempo pareceu parar. Elas soluçavam e riam ao mesmo tempo, num misto de profundas emoções, impossível de descrever com precisão. Depois de enxugarem as lágrimas e de vários abraços e beijos, saíram sorridentes ao encontro das crianças.
Sempre que pensa naquela ocasião tão singular, Lys tem a certeza de que lhe aconteceu algo simplesmente insólito, pois, de uma só vez, teve a oportunidade excepcional, o privilégio inusitado, de poder expressar todo o amor que sentia por sua admirável mãe, ainda em vida, de agradecer-lhe por tudo de bom que ela lhe tinha dado, de pedir-lhe perdão pelas dores que tivesse causado, de ser abençoada e acalentada por ela. De abraçar e ser abraçada, de beijar e ser beijada. E de poder ter essa maravilhosa, essa emocionante lembrança, a mitigar a imensa saudade que ficou em seu coração!
Aqui e agora, Lys sente uma Ilimitada Gratidão por essa Benção extraordinária, por esse prodigioso Presente de Deus!
E sabe que sentirá eternamente!!!
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OBS: Baseado em fatos reais, ocorridos com a autora e sua mãe, escrito no estilo de crônica/reportagem, na 3ª pessoa verbal.
Profunda gratidão aos ensinamentos vivificantes naquele dia recebidos da Seicho-No-Ie, o veículo especialmente eleito por Deus na ocasião para presentear-me desta forma tão maravilhosa! Muito obrigada!
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