VAZIO TEMÁTICO

Decidi escrever a esmo hoje. Quero ver até onde minhas palavras, que por muito tempo foram mantidas em silêncio, irão me levar. Talvez aproveite esse vazio temático para pôr no papel as reflexões de um jovem de vinte e seis anos recém-completados. Você, leitor anônimo que me lê agora, pode estar se perguntado “O que eu tenho a ver com os pensamentos desse sujeito?”. Não condeno a sua indiferença perante meu texto: muitas vezes sou indiferente a mim mesmo.

O que me seduz a estar neste momento diante da tela do computador, em uma manhã ensolarada de domingo, é simplesmente o fato de estar aqui. Não me interessam a fama ou a imortalidade. Escrever, para mim, é uma forma de pôr para fora meus demônios internos, que, por vezes, fazem com que eu perca o sono. Pode ser que você já tenha sentido semelhante vontade de fixar seus pensamentos em um texto. Se isso já lhe aconteceu, certamente você me entenderá.

Penso que essa vontade incontrolável de expressar seus pensamentos, por mais singelos que sejam, pertence a todo escritor. Quem sabe até mesmo Machado ou Drummond já passaram por isso que sinto agora. Talvez a escrita seja um ser espiritual, onipresente, reencarnado através do tempo na memória daqueles que não se contentam em apenas pensar.

Muitas vezes, quando me pego a refletir sobre meu fazer textual (como neste exato momento), tento reafirmar a relevância desse ato para mim. Sinto-me extremamente realizado quando visualizo a arte final de meu esforço. Não me preocupo se é um bom ou mau texto, pois meu intuito é apenas falar o que sinto, uma espécie de diálogo silencioso entre o texto e eu.

Gosto da sensação de estar aqui, produzindo algo meu, algo que foi feito por uma simples vontade de exteriorizar meu ponto de vista sobre as coisas que me cercam e que, de alguma forma, fazem parte de mim. Dessa forma, construo um pouco mais minha identidade, cresço como pessoa e desenvolvo um questionar intenso para criar uma nova visão do que é a vida.

Termino, assim, mais um texto. Não apenas um texto, e sim um auto-retrato de alguém que se transforma em palavras. Dessa forma, leitor, você acaba de ler a mim mesmo.

05/05/07

Luciano Araújo
Enviado por Luciano Araújo em 13/05/2007
Código do texto: T486127