Perdas e perdas

Registro aqui o que foi fruto de uma conversa online pós-almoço de sexta-feira. Aqueles papos que levam 15 minutinhos, e metade desse tempo fica para cumprimentos e expressões automáticas. Com uma pessoa querida. Que incutiu-me idéias não menos queridas, e faz isso muito bem, e sempre! Essas de hoje, nem tanto. Mas porque as tirei da boca (ou dos dedos) dela e tramei sozinho.

Antes que me desvie muito: uma das piores coisas que existem é, exatamente, perder as coisas. Há pessoas que possuem essa mania: brincos, pulseiras, moedas, qualquer pequeno objeto é alvo. E esse é apenas o primeiro estágio de manifestação do problema.

O segundo patamar de "perdeções" abriga seres mais aéreos, e não só por estarem em andar mais alto. Carteiras, celulares, chaves de casa no domingo à noite na volta de viagem, cartão de crédito, coisas dos outros, coisas dos amigos dos outros, e a fila continua. Tem gente que perde até o filho no supermercado. E bate na criança quando a recupera. Na frente de todo mundo. Maior gritaria.

As piores perdas não terão muito espaço aqui. Elas são as que não se podem ver, medir, e, menos ainda, esquecer. A perda de alguém querido. A perda de um coração que batia por você. A perda de um amor que era eterno, ou ainda é, e mesmo assim você fez tanta força que conseguiu perdê-lo. A perda de amigos, posso julgar que auxiliam em dividir os capítulos da história da vida.

E, como nomeei o crime lá em cima, há perdas e perdas. As que irritam, como perder o carro no estacionamento, perder o ônibus, ou a passagem.

Há os que perdem a cabeça. A paciência (que pode ser uma boa atitude às vezes). Perde-se a calma. O juízo. A vergonha. "As estribeiras". O pudor. Aquele álbum de figurinhas que você tanto gostava na infância - na verdade é uma pseudo-perda, pois sua mãe jogou fora e nunca te contou.

Perdem-se guerras, perdem-se heróis, finais de campeonato, partidas de truco, de xadrez, de golf e até de bolinha de gude. Nascemos já perdendo: deixamos o espaço tão aconchegante na barriga da mãe, espaço que lutamos a vida inteira para reaver: Estável. Morno. Suprido de necessidades. E vivendo dentro em quem no ama. Já ouvi que é uma bela definição de amor verdadeiro. Viver em quem se ama. E Luís, um poeta meu amigo, um dia, cochichou em meu ouvido, pedindo segredo: disse-me que amar, entre outras coisas, é "cuidar que se ganha em se PERDER". E o mundo não está perdido. Por enquanto.

Adeus!

Edson JR
Enviado por Edson JR em 13/05/2007
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