Bicicletas, carros e ônibus

A exemplo das maiores cidades do mundo, como Amsterdã, na Holanda, e Toledo, no Paraná, também Brasília conta agora com um serviço de empréstimo de bicicletas. Ainda não experimentei o serviço, em parte porque exige um pagamento anual que, embora simbólico, é feito somente por cartão de crédito, coisa que não uso e, se Deus assim permitir, continuarei não usando. Mas darei um jeito quando abrirem uma estação mais perto de casa. Vez ou outra poderei inclusive ir pedalando ao trabalho. Fará bem à minha saúde, mas também roubará o meu tempo de leitura dentro do ônibus. Isso para não falar no meu trabalho de prospecção de temas literários, que são sempre abundantes em meio à fauna do transporte coletivo.

Inclusive, tenho uma amiga jornalista e, como se não bastasse, cronista que deseja do fundo do coração que eu nunca tenha um carro para ir ao trabalho, tão satisfeita parece estar com os assuntos dos meus textos que nascem dentro do ônibus. Tratei de tranquilizá-la, pois não tenho a pretensão de andar motorizado por aí, o que seria até uma temeridade. Não me sinto em condições de manter carros, cachorros e o que quer que se atribua como o melhor amigo do homem. Certamente as autoescolas sabem dessa minha resistência, pois de outra forma não se explica que todo dia eu receba ao menos três panfletos diferentes me mostrando que nunca foi tão fácil tirar a carteira. De vez em quando, as concessionárias fazem uma propaganda com alertas do tipo “não compre carro hoje”, o que venho tentando respeitar desde os meus 18 anos. Não se deve a mim, portanto, que a cidade tenha ultrapassado 1 milhão de veículos.

É verdade que, no transporte público, eu estou sujeito ao descaso do governo, à superlotação, à má qualidade, à quebra e ao atraso dos ônibus, além de nunca saber quando será a próxima greve que me deixará na mão. Mas não deixa de ser uma forma de vingança saber que, enquanto me confinam em péssimas condições, eu estou lá me instruindo.