- Dos Finais
A primeira sensação é a pior. Quando você se vê obrigado a pôr fim em uma parte importante da sua história parece que tudo vai despencar e você vai se afogar nas suas próprias atitudes. Tudo explode em questão de segundos, não existe audição, visão, nem tato. Todos os sentidos se confundem, sua cabeça se perde em centenas de pensamentos e a sua única vontade vai ser falar. Gritar! As mãos vão tremer, vão suar, vão querer esmurrar qualquer coisa, até você mesmo. Mas serão as palavras que irão conduzir tudo. Sairão! Sem filtro, tudo o que você pensa, sente e até o que não falaria mesmo se quisesse. Tudo vai ser expulso, cuspido, vai vomitar e não vai te salvar. Não existirá alivio. Apenas vazio!
Nos primeiros dias a gente pensa ser um vazio bom. Como se finalmente estivéssemos livres de uma verdade que até pouco tempo parecia realmente ser verdade, mas não, era uma mentira inventada por nós mesmos. Nossos olhos se apaixonaram outra vez, se confundiram, deixaram se levar por um projeto de amizade que a gente mesmo prometeu nunca desenvolver. Porque agora você vai se sentir culpado. Você mesmo explicou diversas vezes que não saiu desse relacionamento tão bem quanto a outra parte. Você deixou tudo tão claro, pra quem quer que fosse, que não seria justo com você seguir com isso, porque no fundo não era o que esperava. Mas você mesmo voltou! Você deixou seu coração exposto para que outro fizesse o que bem entendesse, porque você sabia que nunca seria a mesma coisa. Mas fez. Fez e se sentia feliz por estar fazendo. Por essa condição de amizade que parecia alimentar seu ego, parecia nutrir sua felicidade, então tudo que você defendia -que era seu próprio coração- cai por terra.
Você abandonou sua antiga armadura e deixou ferir-se por algo que já estava estampado. Enforcou-se outra vez, na mesma corda, pelas mesmas mãos. Mas você sabe, não é? A gente sempre sabe. Sabe o momento de parar, sabe até onde ir. Ele também sabia. E deixou.
Não há uma forma exata de pensar. Não há o que pensar, nem o que sentir. Agora que tudo foi expulso de nós o que precisamos é retomar para uma nova estrada. Não há amor que sobreviva a tantos descasos. Não procure erros, todos erraram.