QUANDO O 51, NÃO FOI BOA IDEIA
Em Brejaúbas dos Cafundós, Zé da Tina foi eleito para prefeito entre pompas e circunstâncias.
Na posse houveram fogos de artifício e tudo que tem direito um prefeito, numa ocasião dessas.
O padre compareceu e benzeu o gabinete de sua excelência. Zé da Tina, homem simples foi cercado pelo cordão de puxa-sacos e nomeou seus assessores.
É bem verdade que ser prefeito de Brejaúbas tinha lá suas vantagens, o povo era simplório, humilde e constituído de uma gente simples e trabalhadora.
Zé da Tina era muito bem aceito por todos e caminhava pela cidade tão garboso feito um cavalo puro sangue, cumprimentava a todos com seu sorriso farto, nos passeios matinais antes de chegar ao gabinete religiosamente as 8 horas da manhã.
A única desvantagem de administrar aquela cidade era a absurda e contundente falta de recursos para tudo.
Brejaúbas dos Cafundós não recebia quase nada do estado ou da federação e tinha que se virar com os parcos recursos oriundos do próprio município, entranhado na zona rural das Minas Gerais.
O lugarejo era pacato e atrasadinho e o único soldado do lugar não tinha muito o que fazer.
Quando acontecia uma ou outra rusga entre bêbados no botequim do Zenóbio, ao chegar ao local, Matias não conseguia prender ninguém, pois as contendas eram imediatamente separadas pelos próprios brejaubenses.
De fato o lugar era uma pasmaceira só. Aos trancos e barrancos Zé da Tina, conduzia a administração pública com certa competência.
Dizia o povo do lugar que Zé da Tina, bom sujeito que era, certamente seria reeleito para a prefeitura.
Seus 810 eleitores, quando chegasse a eleição, votariam em peso em Zé da Tina, que sem dúvida continuaria conduzindo tranquilamente sua pacata prefeitura, não carecia preocupação alguma, aquele povo pacato e ordeiro jamais reclamava de seu prefeito.
Os dias foram passando e chegou o ano de nova eleição.
A calmaria reinava em Brejaúbas e nada de aparecer um concorrente ao Zé da Tina.
— Meu Deus, como pode ser isso? Para eu continuar prefeito de minha querida Brejaúbas tenho que ter metade dos votos mais um o que dá um total de 406 e não acho que esse povo todo vai comparecer para votar.
Aquilo martirizava o Zé que queria continuar prefeito.
— Preciso convencer a alguém para montar uma chapa e concorrer comigo porque se houver dois candidatos, qualquer um que levar vantagem sobre o outro será prefeito e claro que serei eu novamente o vencedor, ora bolas.
Zé da Tina numa perfeita cruzada política tentou de todas as formas arranjar um concorrente, qual nada, ninguém queria enfrentá-lo nas urnas.
Foi aí que o Zé teve uma ideia brilhante, montou em seu cavalo e rumou para a fazenda de Deodázio, procurou o Juquinha da Gertrudes, vaqueiro de Deodázio.
— Mas seu Zé, eu nem sei ler direito, escrevo muito mar, até para assinar meu nome tenho grande dificuldade e para que vou querer concorrer com vosmecê que é um prefeito paidégua, muito dos bão? Não sinhô, muito obrigado, mas quero não sinhô.
O Zé estava disposto a vender muito caro a sua derrota para aquelas abstenções todas. De jeito nenhum, isso é que não. Queria continuar prefeito, então tomou uma súbita decisão...
— Juquinha é o seguinte eu lhe pago $2.000 réis para montar uma chapa e concorrer comigo. Insistiu tanto que o Juquinha acabou aceitando.
“Vote bonito, vote direito, vote Juquinha para prefeito, nossa grande renovação”.
E foi assim que Brejaúbas dos Cafundós ganhou um prefeito novinho em folha com uma votação histórica. Juquinha obteve 758 votos, contra 51 votos de Zé da Tina.
Houve uma abstenção, dona Maricota, não pode votar, estava com espinhela caída e uma unha encravada no pé.