CRONICA AS MINHAS TIAS
CRÔNICA ÀS MINHAS TIAS
Na casa em que fui criado havia muito respeito e muito amor pelo próximo. As minhas tias tinham bastante respeito pelos vizinhos e outras pessoas gratas. Ninguém conversava tolice na casa em que eu me criei e passei toda a minha infância e a juventude também. Ali nós tínhamos bons amigos e muitas pessoas honestas que nos respeitavam com um carinho imenso. Sendo criado neste meio eu aprendi a respeitar o meu semelhante e procurar a ser respeitado também. As minhas tias não tinham tempo, para falar da vida alheia, prato tão querido pela maioria. A tia Marica trabalhava o dia inteiro na sua renda ou no seu crochê e quando tinha uma fuga ia ler bons textos. A Teté gostava de ler o seu missal ou o catecismo da igreja católica e a suas rezas costumeiras. Tia Ana passava o dia na sua máquina de costura cosendo alguma roupa dos amigos e do povo de casa. Era assim o lar que fui criado e ensinado a fazer a mesma coisa. Nunca vi as minhas tias envolvidas em nenhum problema com os nossos vizinhos, ou pessoas que passavam na nossa casa humilde. Muito novo senti essa boa filosofia medrar dentro de mim e procurei aplicá-la por onde tenho passado, como cantador, como criatura humana, ou pessoa tranqüila. Sempre me recordo das minhas tias humildes e educadas com todo mundo. A nossa casa não tinha nenhum tipo de arrogância, pois as minhas tias eram pessoas humildes e gente pacata com todos aqueles que as procuravam. Ninguém detestava as Agostinhos como o povo chamava. O nosso abrigo humilde era sempre visitado por muita gente boa. Tudo o quanto levei para a vida prática, consegui aprender no nosso lar com as minhas tias, que foram as minhas mestras. Até o meu gosto literário devo à Tia Marica, pelas leituras que ela fazia e o incentivo que me dava diariamente. Com relação ao meio em que vivi, posso dizer que fui muito feliz e bem acolhido. Entre doze ou treze anos eu já lia os melhores autores do Brasil e do Mundo. Essa fortuna literária devo ao meu progenitor: Agostinho José de Santiago Neto. Sessenta anos depois da morte do meu avô, ainda encontrei os bons livros lidos por ele e a Tia Marica. A minha Tia Teté não lia literatura e nem queria saber quem tinha sido Machado de Assis, José de Alencar, Julio Cesar Machado, ela só lia o seu missal, ou o velho catecismo da igreja, ou outros livros do mesmo jaez. A Tia Ana Rosa não tinha vocação pela cultura da igreja e nem pela arte literária. Cada uma tinha uma índole diferente. No entanto eram boas amigas dos parentes e dos vizinhos. Sinto uma saudade imensa destas três tias que já se foram para outra dimensão. Há quarenta anos faleceu a Tia Ana Rosa, a nossa costureira, a nossa matrona querida. Quando eu tinha vinte e seis anos, a Tia Marica fez a sua viagem também. Com a morte da minha leitora eu fiquei triste e só, sem ter com quem trocar idéia. Com trinta e dois anos perdi a última tia que me criou e me deu bastante carinho em lugar da minha mãe biológica: Donatila de Santiago Lima. Há vinte e cinco anos ela fez a sua partida desta para outra vida, entretanto, até hoje não a esqueci. A casa do meu avô, a Velha Malhadinha e as minhas tias ficaram para sempre dentro de mim. A minha alma de poeta atormentado jamais irá esquecer este momento de tanta grandeza, que foi a minha infância, a minha adolescência e a minha juventude junto a essas três tias honestas, sinceras e pacíficas.
Autor: Antônio Agostinho.