AMOR, OBSESSÃO E DESAMOR
Prólogo
Todas as pessoas adultas de alguma maneira, conhecem a experiência do amor, da obsessão e também do desamor e das consequências emocionais que implica tudo isso.
O segredo e sucesso do amor entre os casais está no aprendizado e desenvolvimento da capacidade de amar, na aceitação dos defeitos e limitações de cada um dos conviventes. Compêndios mil foram, são e serão, ainda, escritos sobre o amor, obsessão e desamor. De todos eles, inclusive deste texto, pode-se tirar uma lição:
Casais que permanecem juntos num estado de confusão, sofrimento, insatisfação, desrespeito, incomunicação, ausência de atração e desejo, inclusive com violência emocional, às vezes, física, com invasão de privacidade, desconfiando, controlando, agredindo (com palavras ou gestos), quebrando ou danificando bens materiais, iludindo com mentiras etc., implica num estado de patologia a dois mantida com cumplicidade doentia.
SOBRE O AMOR, OBSESSÃO E DESAMOR
O amor é o compartilhamento, com satisfação, da experiência de cada um e dos dois, sem limite de duração preestabelecido. O uso do afeto para manipular, culpar, inspirar compaixão, marcar território, produzir ou mostrar dependência, invadir, agredir (com palavras ou gestos) de forma emocional ou fisicamente, desconfiar, iludir, anexar ou aprisionar outra pessoa, não é amor.
Quando não se vibra de forma positiva e não se sente (enxerga) um ao outro, qualquer comportamento destrutivo pode ocorrer. O impulso raivoso e de alto poder destrutivo surge de forma repentina e caótica. E não mais havendo afetividade (emocionalidade), portanto, não haverá censura ou ética que o breque.
É claro que essa emotividade negativa pode ser, e, geralmente é, potencializada pelo álcool, ciúme, desconfiança, ou outra droga qualquer. Aqui cabe um alerta aos enamorados, noivos, casados e/ou amantes. Este aviso é pertinente e oportuníssimo:
Quando um relacionamento afetivo chega a esse nível poderá, no mínimo, ser considerado uma obsessão, isto é, distúrbio emocional em que o pensamento se fixa e se repete na mesma direção, associado a gestos e atos compulsivos.
Sem receio de estar cometendo uma heresia (disparate, absurdo, despropósito) posso afirmar que muitas das pessoas que falam mais alto do amor no sentido convencional, de fazer alguém viver segundo os seus padrões, são neuróticas e incapazes de amar alguém além de si mesmas.
Os crimes passionais ocorrem durante a perda da autocensura, na ausência do controle ou breque emocional! Não nos esqueçamos que a linha divisória entre a loucura e a razão é extremamente inconsútil. Depois da transposição do limiar da conveniência não adianta pôr as mãos na cabeça e murmurar: “Meu Deus! Por que fiz isso?”.
QUAL É A FUNÇÃO DO AMOR?
Antes da resposta vale citar uma verdade inconteste: Pode haver paixão sem amor, mas nunca pode haver amor se não há paixão. Porque até no amor místico há paixão. Para responder de uma forma simplória podemos afirmar que o amor é o enaltecer das concessões para o desenvolvimento das potencialidades positivas de cada membro, sem limite de duração preestabelecido.
Não nos esqueçamos que as relações interpessoais são complexas! Quando esta função (desenvolvimento das potencialidades positivas), deixa de ser cumprida e aparecem os inevitáveis primeiros conflitos, a crise deve ser abordada, se necessário, com a ajuda de uma terapia de casal para sua resolução ou para deixar de maneira cordial esta relação, permitindo que os ex-amantes possam seguir seus desígnios ou provações terrenas.
É evidente! Existe um nível de emocionalidade reprimida, semelhante a uma assepsia, como um certo estado apático, ao qual um dos conviventes reprime-se cada vez mais, por de propósito estar perdendo a capacidade de contato com o outro.
Essa indiferença emocional tampouco é (será) saudável para reaproximar os amantes, mas será menos gravoso tendo em vista, se houver, a proteção da psique da prole. De qualquer forma, quando não mais houver jeito, o ato da separação consensual deverá ser o último ato de amor de um casal.
OS FILHOS ENTRE O MAR (ANGÚSTIA) E OS ROCHEDOS (PAIS SEPARADOS)
Nossa sociedade tende a valorizar cada vez mais o ser humano por ter muitos objetos e, entre esses objetos muitas vezes estão as pessoas, e entre estas pessoas, muitas vezes está o casal. As vezes estar com alguém pode ser algo estético.
Em muitas sessões de casais que fazem terapia essa sensação aparece, sobretudo na mulher, de sentir-se ‘um vaso de flores’, isto é, sentir que seu companheiro está ao seu lado porque se veste bem, porque é bonita, tem estilo nas reuniões sociais, ‘é boa e faz de tudo na cama’. Não se sente amada, senão possuída. O pertencer prevalece sobre o ‘estar com’ e este, é um problema que se aborda frequentemente nas terapias de casal.
Todavia, há também os filhos. Essas inocentes criaturas e, pasmem, até os animais domésticos pressentem o mal que lhes rodeiam. Por isso é importante que desde o início dos conflitos do casal a (s) criança (s) possa (m) ver a separação como um processo mais natural e humano possível – porque é humano, e o ser humano vive momentos de afetos e desafetos de todos os tipos (graus) – e faz parte da realidade que a criança tenha acesso ao mundo adulto, que conheça na medida de suas possibilidades essa dinâmica de desamor entre os pais e não desamor a eles.
Importante assinalar isso, pois há um mecanismo inconsciente produzido em algumas crianças, pelo qual, se não se torna consciente da realidade do adulto, é possível que depois podem sentir-se culpadas pela separação dos pais. Em sua imaginação, algo fizeram errado, será uma carga que sempre levarão com eles, observando isso depois na psicoterapia de adultos quando foram filhos de famílias separadas.
Para evitar esta culpabilidade, seria bom que participassem do processo e que esta situação de desamor fosse compartilhada com os pais. Deve-se assumir que para os filhos a maioria das separações dos pais – exceto as que são produzidas num clima de extrema violência – sempre há uma grande dor e um estresse para os filhos, porque sua dinâmica cotidiana é dividida e além disso, o mundo conhecido e idealizado é derrubado.
Sem dar espaço a ambiguidades ou dúvidas e muito menos deixar a responsabilidade de uma possível volta a outra pessoa, deve-se evitar comentários do tipo: "é a sua mãe que não quer voltar, por mim, tudo continuaria igual..." ou: "é seu pai que não quer assumir as responsabilidades...".
A isso a justiça brasileira dá o nome de alienação parental! Para explicar de uma forma mais simples: A alienação parental é a prática do pai ou da mãe afastar o outro da vida da criança. O pai ou a mãe usa a criança como instrumento de vingança.
Estes são os sintomas das dinâmicas perversas que são desenvolvidas nestes momentos de dor e de mudança e que tanto faz se os filhos sofrem ou não. O importante é que houve a separação e a partir daí reestruturar, organizar as coisas e, entre todos, ver como pode ser melhor para todos a nova vida cotidiana (atividades do colégio, aniversários, datas comemorativas, festas de fim de ano, férias escolares etc.).
A todo custo os pais devem evitar consequências dramáticas para os filhos que, mesmo de pais separados, continuarão filhos.
A RECONSTRUÇÃO FAMILIAR OU REESTRUTURAÇÃO DA FELICIDADE
No processo da reconstrução familiar ou reestruturação da felicidade, é importante que a entrada de uma terceira pessoa (companheira/o do pai ou da mãe) na vida cotidiana dos filhos, seja feita de maneira gradual e progressiva evitando surpresas ou mudanças de hábitos e costumes repentinos.
Os filhos dos que desejam se harmonizar NÃO QUEREM ser intrusos ou ser considerados estranhos, mas, é preciso ir conhecendo esta nova pessoa pouco a pouco, com tempo necessário para que seja construída uma relação, até que então, possa a ir viver com eles se for o caso.
Esta situação precisa ser planejada com os filhos, permitindo que deem sua opinião, que sintam-se protagonistas e comecem a integrar esta nova pessoa sem o intuito de substituição do pai ou da mãe. Até hoje, salvo outro entendimento, pai e mãe são insubstituíveis. Podem, entretanto, ser complementados, principalmente na área afetiva.
CONCLUSÃO
Amores chegam ao fim, casais se separam, filhos tem que aprender a viver com o desfazimento dos laços que mantinham os pais unidos. Isso acontece com frequência, nas melhores e nas piores famílias.
Nos piores núcleos familiares, e aqui escrevo acerca de famílias pouco preparadas emocionalmente, recaem sobre os filhos as mágoas e ressentimentos que contribuíram para o fim da relação.
A alienação parental sempre existiu. Um dos pais, geralmente o que se sentia abandonado por aquele que tomou a decisão de por fim à convivência conjugal, passava a manipular os filhos para que estes se afastassem e, até mesmo, odiassem aquele que havia deixado o lar comum.
Hoje, nomeada e matéria de lei (Lei 12.318/2010), a alienação parental vem sendo discutida até mesmo pela grande mídia (em forma de novelas e reportagens), tornando evidente a absurda crueldade perpetrada contra pais e filhos, na tentativa do guardião em afastá-los como forma de punição e vingança pelo “abandono afetivo” daquele que foi, e muitas vezes ainda é, seu objeto de amor.
Por isso, em virtude de um conflito relacional, há as alternativas criativas:
1) - Sair juntos da crise, protegendo e preservando o (s) filho (s), se houver, e aprender com ela para encontrar uma maior satisfação na relação amorosa;
2) - Proceder a separação, de preferência amigável (é mais rápida e menos onerosa para os que se digladiam), mesmo que seja somente uma das duas pessoas que queira depois de encarar a crise em comum.
Permanecer juntos num estado de confusão, sofrimento, insatisfação, desrespeito, incomunicação, ausência de atração e desejo, inclusive com violência emocional, às vezes, física, com invasão de privacidade, desconfiando, controlando, agredindo (com palavras ou gestos), quebrando ou danificando bens materiais, iludindo com mentiras etc., implica num estado de patologia a dois mantida com cumplicidade doentia.
Os diletos leitores poderão, caso queiram, acompanhar um exemplo de obsessão e desamor, com um misto de possessividade ou passionalidade, tendenciosa à psicopatia, na atual telenovela – “Em Família” – produzida pela Rede Globo e exibida no horário das 21 horas, desde o dia 3 de fevereiro de 2014.
Na trama de “Em Família”, escrita por Manoel Carlos, com a colaboração de Ângela Chaves, Juliana Peres, Maria Carolina, Mariana Torres e Marcelo Saback, o personagem Laerte Fernandes (Gabriel Braga Nunes) é um psicopata calculista, obsessivo, acometido de compulsão homicida, travestido em um musicista refinado. Não tenham dúvidas: A ficção, às vezes, baseia-se na realidade e vice-versa!