As sombras.
Vivo o silêncio, o ato. De fato existo enquanto ato e não ação, quando o hoje e o ontem acontecem, se mistura e se fundem em um só. Dão formas inexata à razão. E admitir-se não ser nada, se permitir pensamentos insanos, profanar a própria razão e a coerência pelo simples ato de olhar-se no espelho e se enxergar. Ser às vezes a criança assustada que acorda no meio da noite e se agarra ao medo, que quer colo e o aconchego seguro de mãos e abraços, de vazios e de silêncios.
Reconhecer-se sem marcas ou signos, sem conceitos e preconceitos preconcebidos de mentes castradas; desprovidas da maldade adulta que adultera os sonhos e cala com seus gritos os medos que elas mesmas sentem de si mesmo. Não ter respostas prontas, mas construí-las, uma a uma . Não ser o homem que se espera, mas permitir-se ser oque por si se molda, se forma e se enumera.
Fugir da razão coerente das antigas falas dos sábios e dos profetas, ser seu próprio Deus. Gerir e seguir suas próprias ideias, entregar-se às suas vontades e desejos sem medo, sem culpas, sem nada.
Ser a criatura antes da criação; ser abstração de ideias descomedidas sem o peso das culpas e responsabilidades de seus atos. Ser Senhor de suas próprias vontades e desejos.
E ter o sagrado direito de olhar-se no espelho: admirar suas formas, cada curva lisa de teu corpo, sentir cada toque, cada gesto.
Longe da ideia preconizada da criação, arauto de seus próprios desejos, amar sem medo, culpa ou desejo, entregar-se aos braços de Morfeu sem a estigma do pecado mortal que assola aos homens, lhes condena a alma ao fogo eterno da perdição por ousar amarem-se.
Entregar-se á loucura dessa paixão desenfreada, desesperado desejo sem formas, sem sexo, sem nexo. Ousar amar-se na sua forma mais plena e absoluta. E em toques sutis e suaves, romper barreiras e preconceitos, derrubar tabus absolutos e absurdos, obtusas formas de vida que norteiam; impõem suas regras e normas, conduzem a vida humana como um sábio construtor de torres, castelos fadados à ruína. Fustigadas formas de amar aprisionadas, atadas à conceitos rotos e disformes.
Atormentadas almas que se flagelam, açoitam a palavra muda, escondida em seus próprios corações acorrentados. Tolos homens que ostentam estandartes de ignorância e intolerância vil e animalesca. Calam sua própria voz, sufocada entre seus mais medonhos desejos. O medo do desconhecido lhes atormentam as noites quando apenas seus olhos brilham no escuro mundo em que se escondem de si mesmo.