GOL SAMARITANO
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
No dia 5 de março de 1961, num jogo entre Santos e Fluminense, o Santos vencia a partida por 1 a 0, quando Pelé recebe a bola no meio do campo e arranca em direção ao gol do adversário. Passa entre dois, dribla mais três e chuta na saída do goleiro Castilho. O jornalista Joelmir Beting, como todos os que viram o jogo, no estádio do Maracanã, ficou encantado. De volta a São Paulo, sugeriu que o jornal O Esporte, para o qual trabalhava, mandasse fazer uma placa de bronze a fim de registrar a beleza do lance. A placa foi afixada na entrada do Maracanã. A iniciativa deu origem à expressão “gol de placa”, que se tornou sinônimo de gol inesquecível.
Aparentemente, mudando de assunto. Segundo a parábola bíblica conhecida como do Bom Samaritano, um homem descia de Jerusalém a Jericó quando caiu nas mãos de salteadores que, depois de o espancarem, se retiraram deixando-o semimorto. Por coincidência, descia também por aquele caminho um sacerdote. Quando este viu aquele homem deixado à míngua, fez que não o vira, e foi adiante, prosseguindo o seu caminho. Do mesmo modo, também um levita. Chegando àquele lugar, e vendo o homem estendido no chão, não lhe prestou socorro. Finalmente, um samaritano, por tradição inimigo dos judeus, aproximou-se, teve compaixão do coitado. Atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho. Em seguida, pôs o homem sobre o seu animal, levou-o a uma hospedaria recomendando que cuidassem dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro dizendo: – Trata bem dele e, quanto gastares a mais, na volta eu te pagarei.
Essa história é, sem dúvida, comovente. E por que eu a recordo aqui? Tenho a maior admiração pelo Pelé, que faz jus às honrarias que lhe prestam. Mas fico pensando numa coisa: muita gente por aí mereceria também uma placa. Em meio a um mundo demoniacamente depravado, vemos, todos os dias, bons samaritanos, boas samaritanas. Gente anônima que faz gols memoráveis.