É duro ser colonizado!

É duro ser colonizado!

Que pais de colonizados!

Veste-se a camisa, canta o hino e o patriotismo é palavra bisada e bradada pelos cantos do país. Marx, com licença, mas o ópio do povo, no momento, é a copa do mundo.

Tudo diz respeito a esse evento; tudo é planejado para esse evento. A copa do mundo contribui com o discurso eurocêntrico e com o colonizador colonizando mais uma vez.

A segurança deve atender aos visitantes; a saúde deve curar os estrangeiros. Na verdade, o Brasil é estrangeiro dele mesmo. Recebe sobras de um planejamento padrão FIFA e vai se contentando, como sempre, com o circo e o pão ofertados.

Povo colonizado!

Torcer contra a seleção é torcer a favor do país!

Torcer contra a seleção, é torcer contra o ufanismo!

Patriotismo não significa torcer pela seleção, tampouco, cantar o hino, em voz alta, e, à capela, nos estádios. Ser patriota é ser responsável pelo seu país!

Corpos dóceis e disciplinados!

O colonizado se ergue no momento em que os olhos azuis passeiam pelas ruas; o colonizador habita, nesse momento, entre nós.

O jogo começa e é anunciado com fogos de artifício o circo montado. Choro, angústia, desespero e o gol não sai. A mídia vende caro a alienação e a subordinação.

Viva o povo brasileiro. Mas o que esse título emprestado de João Ubaldo quer dizer? O viva é saudação ou é um verbo? O que importa? Viva! Viva!

Gente de bem! Povo feliz! Festeiro! Mulheres bonitas! Corpos esculturais! Pais do futebol! Deus é brasileiro! A pátria de chuteiras! Haja coração, amigo!

E as frases vão erguendo um povo, construindo uma nação e fabricando parvos.

Gol contra! O povo sempre chutando de canela contra o próprio gol.

Pais que gosta de ser sempre colonizado!

O direito de ir e vir foi cerceado. Ande, mas não atrapalhe o algoz de outrora. O país deve receber, como bom anfitrião, os estrangeiros. Ele escreverão uma nova carta, na qual, dirá:

Aqui, o povo continua o mesmo. A gente sorri e mostra nossos olhos azuis e eles, como idiotas, nos abrem portas, braços e pernas. Ofertamos alguns afagos e nos dão as suas cidades. São dóceis, disciplinados e não esboçam reação alguma. Oferecem o que têm de melhor e ficam com as sobras. Nessa terra tudo pode. Eles, os colonizados, são passivos e parvos; povo fácil de agradar. O futebol é sua cachaça e, desse jeito, podemos jogar no fundo, impedido, que eles não pedirão cartão vermelho para nossas faltas cometidas. Gritam olé e levam um olé de nós. È um povo de bem, para não dizer que é um povo ... Viva o povo brasileiro!

É duro ser colonizado!

Mário Paternostro