Não somos santas: somos mães!
É difícil falar de mãe sem falar de amor. E é difícil não ser piegas quando o assunto é amor de mãe. Ao tentar um texto isento, travo a emoção e fica complicado discorrer sobre o tema. Mas vou tentar não ser sentimentalista em excesso, nem desaguar no inverso.
Aqui, falo como mãe e como filha: essas relações delicadas e complexas, ricas em sentimentos diversos, mas onde sempre predomina o amor.
Sou mãe feliz e realizada de cria única, que vale por muitas. Não sei exatamente como se sentem as mães de muitos filhos, mas as vejo como heroínas, pois enxergo a maternidade como a mais intensa experiência humana.
O amor materno talvez seja o único incondicional. Mãe não deixa de amar um filho mesmo que este venha a se tornar um homicida.Ela sofrerá por ele e com ele, mas não o deixará de amar nunca.
Como mãe, não sou santa e nem quero ser, mas o amor mais bonito e desinteressado que conheço é o que sinto por minha filha. Não me vejo como uma mãe sacrificada, pois tudo que fiz foi por amor e de boa vontade. Não me arrependo de nada e não pretendo nada cobrar.
Como filha, recebo o amor e o carinho de minha mãe e por ela sinto amor, respeito e orgulho.Minha mãe também não será canonizada, mas nos criou, a mim e aos meus irmãos, com afeto, limites e apoio contínuo.
Como vê leitor, eu não só desejo fugir dos clichês, mas também desmistificar a figura da “santa mãe”. Não gosto dessa mãe posta num altar. Imaculada e santa só a mãe de Jesus, a quem nós mães pecadoras e católicas recorremos a qualquer preocupação com nossos rebentos.
Amamos nossos filhos como amamos a nós mesmas. Nossa relação com nossa prole é uma manifestação da forma como nos relacionamos conosco e com o mundo.Reproduzimos nossos conflitos em nossos relacionamentos familiares e não há santidade que resista ao cotidiano moderno.
Todavia, meu manifesto é a favor das mães e não contrário.Livrar a mãe da obrigação de ser perfeita é uma conquista. Alforriar a figura materna de seus cânones é torná-la livre para amar sem grilhões.
O respeito e o amor recíprocos entre mães e filhos é importante para o nosso equilíbrio emocional; que seja suave o convívio.Que saibamos perdoar nossas mães, pois são humanas e imperfeitas. Que as mães, por sua vez, aprendam a aceitar as individualidades de seus filhos sem cobra-los a perfeição idealizada.
Que amemos nossos filhos simplesmente, pois esse amor é natural e prescinde de modelos pré-estabelecidos.Que amemos nossas mães naturalmente deixando o afeto fluir em atitudes e gestos.
Não precisamos inventar moda: esse laço afetivo existe e só necessita de reconhecimento.
Arriscando o óbvio, ressalto que me refiro não só àquela que concebe. Mãe é quem dedica amor na criação de um filho, tenha este nascido do seu ventre ou não. Todos conhecemos mulheres que não pariram seus próprios filhos, mas que amaram igualmente os que vieram a si por adoção.
Hoje gostaria alcançar todas as mães em um abraço e afagar todos os filhos, pois a maternidade nos iguala. Almejo o conforto àquelas que sofrem e compartilho da alegria das que comemoram.
Neste domingo, meu programa é o almoço em família onde estarei com minha mãe e minha filha. Teremos mais uma ocasião para brindarmos à convivência harmoniosa que mantemos, com a graça de Deus.
Evelyne Furtado, maio/ 2007.