LEMBRANÇA XII

Ainda lembro-me perfeitamente que nos finais de semana em que não íamos almoçar na casa de um dos parentes, geralmente porque era a vez deles pagarem a visita, eu ia com os colegas de rua, assistir à missa na Matriz do barro, bairro ande morei do zero aos vinte e seis anos.

Naquele tempo o vigário era o Pe. Rodolfo. Baixinho, gordo, bem humorado, zeloso com os seus fiéis e que, muito antes do Concílio Vaticano II, já celebrava as missas por faixas etárias.

A missa das nove do domingo era especialmente dedicada às crianças vez que, logo depois eram celebrados os batizados e perto do dia 8 de dezembro, dia de Nª Sª da Conceição em cuja invocação fora a igreja erigida, havia a primeira comunhão das crianças preparadas por uma das beatas que, devia ter nome, mas todos a chamavam de Madrinha.

O Pe. Rodolfo gostava de fumar charuto e como sempre estava vestido com a batina preta exalava aquele cheiro nauseabundo de tabaco misturado com suor velho, das roupas usadas e reusadas, secado depois de algum tempo.

As missas eram celebradas em latim (ninguém entendia bulhufas), mas a homilia era em português e o bom sacerdote, descia do altar para junto da parede vazada pouco maior do que os assentos das cadeiras, aonde os fiéis ajoelhavam para comungar, apelidada de Mesa da Comunhão, mas que em verdade era o marco entre o gentio e o clero.

Pois bem o Pe. Rodolfo muitas vezes sentava nesse murinho e discorria sobre o evangelho ou uma das epístolas do dia, como se estivesse contando uma história, geralmente, com final jocoso para provocar o riso da plateia de pouca idade.

Nos dias em que ele avisava que, por qualquer motivo, não haveria a homilia, eu voltava para casa altamente decepcionado.

Foi por influência da minha avó, a senhora dona Valentina e pela maneira de ser do Pe. Rodolfo, que me tornei um Católico Apostólico Romano e durante algum tempo desejei ser um sacerdote carmelita.

Para tanto, estudei os postulados dos Santos: Agostinho, Bento e Tomás de Aquino; Teologia na Universidade Católica de Pernambuco, com direito à cadeira de Teologia Comparada; estudei também os Mórmons e outras seitas com base cristã; xamanismos; os postulados de Allan Kardec sobre o Espiritismo; as religiões politeístas europeias, asiáticas, africanas e americanas; as monoteístas não cristãs; além das diversas mitologias ao mesmo tempo em que participava da Equipe de Liturgia e do coral da minha paróquia.

Mas os anos se passaram, me tornei adulto e depois de uma profunda análise sobre as doutrinas, ritos, dogmas e, principalmente, levando a sério os conselhos de João, o apóstolo, em 5:39 e 8:32, eu estou convicto de que é bem melhor, mais racional e libertador, ser ateu.