CRÔNICA – De um torcedor maluco – 22.06.2014
 
CRÔNICA – De um torcedor maluco – 22.06.2014
 
 
“Eu não consigo acreditar no que estou vendo, ouvindo e lendo, quer nos meios de comunicação do dia a dia, quer na INTERNET. Enfim, é no país inteiro que presenciamos toda essa expectativa que se criou em torno de um jogo fácil demais para o Brasil, isso em termos comuns, como o era até pouco tempo”, comentava um amigo na mesa vizinha a minha, aqui num restaurante do Recife. Falava aquele apreensivo brasileiro da partida que será realizada amanhã contra a fraca Camarões, uma seleção abatida, sem recursos, chata, mal-educada, que até criou dificuldades para viajar ao Brasil, dizem que exigindo pagamentos altíssimos por cada vitória que conseguisse nessa copa do Mundo. O tal “bicho” como é bem conhecido aqui no nosso meio, que seria aumentado a cada resultado positivo, e em caso de ganhar a competição na sua totalidade o governo daquele país teria de tomar um grande empréstimo, certamente ao Brasil, para honrar seus compromissos.
            Alguém poderia perguntar: “Por que seria o Brasil que eles procurariam”? Ora, claro que sim, até porque é a nossa pátria querida, bem amada, que vem acostumando mal os tomadores de empréstimos da África, países realmente pobres, que vêm merecendo o perdão de dívidas por parte dos nossos governantes. Penso que ninguém elegeu esse pessoal para dar o nosso dinheiro, em detrimento de atividades básicas locais, que passam por dificuldades absurdas, nos setores da educação, transportes, segurança, saúde, saneamento e outras.

            De repente, não mais do que de repente, como dizia uma música cantada pelo Moreira da Silva, que Deus o tenha, a peleja tornou-se difícil para o nosso selecionado, que só precisa empatar para se classificar. Uma derrota para Camarões, desde que o México empate com a Croácia, poderia também nos classificar à segunda etapa da Copa, ou seja, para as oitavas de finais.

            De minha parte, e da população em geral, notadamente dos desportistas que acompanham nossos jogos, não se vê qualquer avanço no nosso time, embora o Felipão e os atletas (que só dizem o que ele quer) venham falando que houve progressos em cada etapa desde a preparação do elenco há um ano e meio sob o seu comando. O Hulk, que não tinha contusão alguma (era de alma), passou a ser a grande atração da jornada de amanhã, como se falta fizesse ao selecionado, isso se chamados fossem alguns grandes atletas que ficaram de fora da convocação. Mas entre os convocados existe condição suficiente para vencer ao time de Camarões, bastando que se escalem melhor os onze que serão titulares. A meu pensar, que me perdoem, pois torço pelo Fluminense, o Fred é um ex-jogador em atividade; o Hulk é fraco, possuindo apenas um chute forte; o Bernardo não faz mal a um pinto; os laterais, que podem muito bem subir e ajudar a municiar o ataque, parece estão proibidos de fazê-lo pelo treinador; Ramires é um pobre coitado, que não calçaria as chuteiras do Clodoaldo, aquele de 1970, e por aí vai. Mas querem ver uma providência que melhoraria de logo o nosso desempenho? Escalar outro goleiro, porquanto ninguém na equipe confia no Júlio César, que está sobrando no cenário futebolístico mundial. Com esse posicionamento a nossa rapaziada vai confiar mais no elenco, pois na verdade estão é com muito medo do nosso arqueiro. Um detalhe que me parece visível é a maneira como os atletas brasileiros cantam o hino nacional: De cara feia, com raiva, nervosos, inseguros, posturas que prejudicam, sobremaneira, o seu desempenho.
            Em condições normais seria o caso de ter forçado o Neymar a tomar o segundo cartão amarelo, de sorte que ficasse fora do jogo de amanhã, mas pra isso é preciso ser treinador daquilo roxo, e o Felipão só o é da boca pra fora, quer sempre ganhar no grito, reclama de todos os árbitros que apitam os nossos jogos. Muito melhor do que ser punido amanhã, pois o time Camaronês joga duro e, decerto, vai mandar marcar o nosso melhor jogador homem a homem. Vai bloquear a saída de bola dos brasileiros até que os nossos se irritem e façam as besteiras que estão acostumados a cometer em seus clubes. Quem viver, verá!
            Outra coisa que está sendo muito badalada, qual seja a de que o Brasil deveria jogar como o fez na Copa das Confederações, uma competição completamente diferente duma Copa do Mundo, até porque muitas delegações não trazem todos os seus titulares, além do que tal disputa não tem tanta representatividade. O melhor seria que a Copa do Mundo fosse disputada de dois em dois anos, pois ostentar o título de campeão por quatro anos com o progresso que está havendo em todos os ramos de atividades é uma injustiça. Todos viram o péssimo papel que fizeram os espanhóis, desclassificados que foram na primeira fase desse torneio.
            O que o Brasil tem e muito é “cartola” comandando um time de razoável envergadura atlética, mas que jogam no exterior e já estão muito bem manjados pelo mundo afora, restando apenas aquilo que se chama “improvisação, criação”, mas nem sempre o cara está tão iluminado para inventar jogadas geniais. Isso é o mesmo que ocorre com grandes poetas, que nem sempre estão inspirados para produzir obras de real valor literário. Mas o que me parece é que Felipão, que foi um péssimo zagueiro de futebol, quis imitar o saudoso João Saldanha, que convidou 22 feras e disse: “Os titulares são esses e só sai algum por contusão forte ou morrer”; claro que não com essas palavras, mas o que deu a entender foi justamente isso.
           Faço uma pequena pausa para apreciar o gol de Portugal contra os Estados Unidos, aos cinco minutos de jogo, precedido de uma belíssima jogada do Cristiano Ronaldo, que fez um carnaval de dribles com atletas americanos. Uma beleza de gol.
           Retornando com o assunto, quero crer que um combinado com os melhores jogadores do Cruzeiro e Atlético, ambos de Belo Horizonte, mais alguns atletas do Internacional e do Grêmio, estes de Porto Alegre, e mais alguns do São Paulo, nós estaríamos por demais representados nessa competição, como ocorria antigamente, quando o Santos, o Vasco, o Botafogo e o Flamengo eram as fontes primordiais de nosso escrete. E isso se justificava, em face de já se conhecerem, tinham entrosamento em suas equipes, caminho certo para a seleção. Mas em todas elas, pelo menos aquelas que foram campeãs havia um líder dentro de campo, que funcionava como um treinador suplente.
           Mas o Brasil está com medo da partida, essa é que é a verdade. Até que poderia haver alguns entendimentos entre os governos dos dois países, de sorte que as coisas fossem facilitadas, o que não seria novidade alguma, porquanto no mundial da Argentina, em 1978, o Peru abriu as pernas para nossos “hermanos” e perdeu por 5 x 0, de sorte a prejudicar os brasileiros, eis que se a goleada fosse menor em um gol a vaga seria nossa para a etapa seguinte. Foi uma vergonha, claro, mas no futebol quase tudo é permitido. Uma operação de empréstimo em dólares americanos poderia até ser feita para os africanos, a juros módicos, prazo de cinquenta anos, a perder de vista, e depois aquele já tradicional perdão. Bom é lembrar que o nosso governo faria tudo por uma reeleição, por sinal já anda à frente nas pesquisas de opinião, e para concretizar de uma vez por todas a conquista bastaria ser hexa campeão mundial.
           Mas a necessidade de ganhar por parte dos brasileiros se justifica também para contribuir com o esquecimento da grande fortuna que retiraram dos cofres públicos para financiar esse esquema pesado de construção de mega estádios, tipo arenas, as obras de seu entorno, quase nenhuma concretizada. Isso sem contar a isenção completa do pagamento de impostos pela FIFA, quer das rendas dos jogos, quer das receitas das propagandas, da transmissão via TV para o mundo inteiro, e outras oriundas das vendas de produtos alimentícios e de bebidas, que foi um monopólio extraordinário. Melhor dizendo: Quem estará governando o país durante os trinta dias da disputa é o senhor Blatter, presidente da Federação Internacional de Futebol Associação.
           Abrindo mais um parêntesis, o nosso Felipão acaba de ser entrevistado pela TV. Foi de uma infelicidade marcante, eis que ao ser perguntado qual a equipe que ele preferia enfrentar foi logo respondendo: "A Espanha, mas ela não está mais aqui, ganharíamos por WO, mas ela foi eliminada...". Ora, o sujeito ganhar mais de um milhão de reais por mês, afora gratificações e propaganda, para dar uma resposta dessas é de amargar. Pena que eu não fosse o repórter que o indagou...
           É por essas e outras razões que para mim tanto faz ela ganhar como perder, pois nem vou incentivar essa desgraça do governo e nem vou torcer contra...dizem que Deus é brasileiro, quem sabe...
 
Ansilgus
 
ansilgus
Enviado por ansilgus em 22/06/2014
Reeditado em 27/06/2014
Código do texto: T4854798
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