No Clube
 
Estava com uma amiga no Clube. Conversávamos descontraidamente, aproveitando a vista da lagoa, vendo as pessoas que passavam soltas a passos leves, curtindo o belo dia ensolarado. Crianças brincavam na piscina, com a alegria que lhes é peculiar. Algumas, mais adolescentes, ameaçavam desfrutar os primeiros flertes. A manhã assistia a tudo dispensando brilho, sorrindo paz. Ouvia a amiga. Ela contava sobre sua difícil trajetória, alguns caminhos que escolhera atravessar e projetos que não lograra êxito, todavia não por falta de empenho, verdadeira dedicação.
Enquanto a escutava, espontaneamente, refletia. Constatei que também tinha alguns planos, senão muitos, que não obtivera sucesso. Tive consciência do tamanho da dor que ela sentia, então quis lhe contar sobre os meus fracassos para confortá-la, mas me contive. Pois sua história era diferente da minha, o valor dependia de suas vivências e de seu sentimento, por isso não caberia comparação. Decidi confidenciar os meus infortúnios noutra oportunidade, não cometeria novamente esse equívoco, “você também já deve ter caído neste erro, não?” Ela continuou expondo suas experiências frustradas, e eu pacientemente a ouvia.
Entretanto, subitamente, ela me fez uma pergunta: “Acho que não tenho sorte, e com você como é?” Confesso que ela me surpreendeu com a questão, parecendo ter decifrado o meu pensamento. Mas posterguei relatar os meus insucessos. Coerente com as minhas convicções, adiei para outro momento. Deixei o pensamento fluir e respondi com intensão de acalentar: “Essa vida é assim mesmo, quantas vezes planejamos com atenção um projeto, mas na aplicação descobrimos um desfecho inesperado. Contudo sempre aprendemos alguma coisa, não é mesmo? Mas não podemos desistir e permitir que o fracasso sobressaia à aprendizagem.” Sua feição se tornou mais serena. Sem entrar em detalhes, deixei a entender que também passara por vicissitudes.
Realmente não cabia, naquele momento, relatar sobre experiências semelhantes. Ouvir e respeitar a sua história, que é única, fora suficiente para abrandar o seu coração. Ficamos mais felizes, o dia mais bonito, e o assunto mudou de repente para literatura. De fundo pudemos ouvir um samba de raiz vindo do quiosque e resolvemos animadamente apreciar mais de perto, aproveitar um pouco mais o dia no Clube.

 
Maria Amélia Thomaz
Enviado por Maria Amélia Thomaz em 22/06/2014
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